terça-feira, 10 de maio de 2011

vaGA AZul

Vaga, no Azul Amplo Solta
Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

1 comentário:

  1. A Flor que és, não a que dás, eu quero.
    Porque me negas o que te não peço.
    tempo há para negares.
    Depois de teres dado.
    Flor, sê-me flor! se te colher avaro
    A mão da infausta esfinge, tu perere
    Sombra errarás absurda,
    buscando o que não deste.

    ( Ricardo Reis)


    Tenho nome de Flor

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