
Nos arredores de Lisboa, Augusta, que teria hoje 96 anos, morreu sem ninguém dar por nada. Nem família, nem amigos, nem serviços públicos. Uma vizinha, apenas ela, bateu a todas as portas que pôde, por estranhar a sua ausência. Da família, da GNR, de todos, apenas a indiferença. Nem a segurança social, nem os serviços de saúde. Ningué...m. Era apenas uma velha num prédio de uns subúrbios. Passou oito anos a bater a portas. A burocracia impediu que alguém fizesse alguma coisa. A porta não podia ser arrombada. A GNR até gozou com a preocupação da vizinha. Coisas de velhos, terão pensado.
Mas Augusta, cidadã portuguesa, era também contribuinte. E aí deram por falta dela. Tinha uma dívida. Sem um único contato, a frieza da máquina leiloou o seu apartamento. Quando os novos donos chegaram, a porta foi finalmente arrombada. E lá estava Augusta, morta no chão da cozinha. Tinha morrido há oito anos sem que ninguém tivesse dado ouvidos à vizinha.
O que impressiona, para além da solidão que permite que alguém morra sem que ninguém dê por nada, é que o mesmo Estado que dá pelo não pagamento de uma dívida ao fisco não dê, não queira dar, pelo desaparecimento de um ser humano. Que o contribuinte exista, mas o cidadão não. Que quem tinha a obrigação de pagar impostos tenha deixado de existir nos seus direitos. A metáfora é macabra. Mas é poderosa. Este Estado que não se esquece - não se deve esquecer - de nós quando é cobrador, mas para quem não existimos quando nos é devida alguma atenção.
Diz-se que só há duas coisas certas na vida: a morte e os impostos. Parece que para o Estado português só a segunda parte é verdadeira.
O que impressiona, para além da solidão que permite que alguém morra sem que ninguém dê por nada, é que o mesmo Estado que dá pelo não pagamento de uma dívida ao fisco não dê, não queira dar, pelo desaparecimento de um ser humano. Que o contribuinte exista, mas o cidadão não. Que quem tinha a obrigação de pagar impostos tenha deixado de existir nos seus direitos. A metáfora é macabra. Mas é poderosa. Este Estado que não se esquece - não se deve esquecer - de nós quando é cobrador, mas para quem não existimos quando nos é devida alguma atenção.
Diz-se que só há duas coisas certas na vida: a morte e os impostos. Parece que para o Estado português só a segunda parte é verdadeira.
Lido no Expresso Online (Daniel Oliveira)
Terrível... isto vem acordar os fantasmas de quem vive sozinho e isolado...
ResponderEliminarQuando soube da notícia pareceu-me impossível....
Em que mundo vivemos?
Onde estão os amigos afinal? (Porque a família já não devia existir)
Nem a vizinha conseguiu nada
O anonimato das grandes cidades, onde até gosto de viver, mas que é implacável...
Doloroso... muito!
Carmo
Viver em sociedade requer viver em boa vizinhança. Requer solidariedade, compromisso e prudência.
ResponderEliminarRequer o bem estar de todos. oferecer e ajudar.
Boa vizinhança... preocupação com os outros não necessita de mordomias.
Bate-se à porta e procura-se
Boa vizinhança comporta-se de maneira civilizada. É solidária e pensa que um dia pode chegar a nossa vez .
Pobre senhora
Pobre sociedade
Pobre de Nós
Pobre de Todos.
Pode ser que estas tristes noticias nos façam mudar de comportamento, e, pensar mais nos outros..
Tenho nome de Flor.