UMA AVENTURA NO CIRCO
Eram quatro primos
muito, muito amigos que viviam muito perto uns dos outros, numa aldeia muito,
muito pequenina e simpática perto de Coimbra.
O Vasco era o mais
velho, tinha 14 anos muito, muito espertos e fortes. O seu irmão Tó, mais novo
dois anos, era pequeno, muito pequeno em tamanho mas o mais corajoso de todos.
A Bia tinha 12 anos
e era a única menina do grupo. Era branca como a neve e tinha umas bonitas e
compridas tranças loiras.
Por último, o
Tomás, com 13 anos, era o mais inteligente dos quatro.
Naquele Verão
quente, muito quente, já depois das aulas terminarem, foi combinado entre todos
fazerem nesse ano algo de muito diferente para se divertirem. A ideia era fazerem
qualquer coisa que ficasse para sempre nas suas memórias.
Todos tinham sido
bons alunos e mereciam um prémio – uma aventura vivida só por eles, sem pais,
tios ou avós a vigiarem.
Nos outros anos
tinham ido a praias, a campos, já tinham feito campismo na Figueira ou no fundo
do quintal da Avó Fatiminha.
Já tinham jogado ao peixinho, ao berlinde e
ao pião. Ao Pictionary. Ao Monopólio.
Já tinham ido à piscina municipal mostrar o
que tinham aprendido em um ano de lições na água.
Não, tinha tudo de ser diferente este ano.
A ideia foi, claro, do Tomás, o único com
certezas e muita, muita imaginação.
Era tudo muito simples – a ideia era
visitar um circo, aquele que todos os Verões chegava a Coimbra, misturarem-se
com os tigres e os elefantes, com os palhaços e com os mágicos.
Depois de ali chegarem, ficariam dois dias
inteiros, sem pressa, para fazerem muitas perguntas e sem dar respostas.
Deixaram um recado aos pais.
Não os queriam preocupar mas era preciso
partir para aquela aventura que nunca iriam esquecer.
Dizia o bilhete:
“Papás – vamos os “quatro piolhos” brincar
para um sítio mágico. Não se preocupem nem fiquem assustados. Vamos ter muito
cuidado, como sempre nos ensinaram a ter, estamos bem e não deixaremos que nos
façam mal. Estamos juntos e ninguém nos magoará. Regressamos em dois dias.
Beijos e saudades”
Puseram alguma comida nas mochilas,
vestiram roupa leve pois estava muito, muito calor, e encontraram-se junto do
poço do quintal da casa do Jonas e do Tó. Eram 10 horas da manhã do primeiro
dia da aventura.
Partiram. Contentes, sem olhar para trás.
Para não sentirem saudades.
O plano era este: seguiriam para os
terrenos junto do circo e iriam fingir que tinham sido abandonados pelos pais.
Pediriam abrigo e pediriam trabalho.
Desconheciam quem era o patrão, o chefe do
Circo. Aquilo devia ter um chefe. Qualquer grupo o tem.
Quando chegaram perto do circo IMAGINÁRIO,
só tinham olhos para os lindos cavalos, para as lindas bailarinas, para os
leões nas jaulas.
A Bia meteu conversa com uma menina que
estava a escovar um cavalo preto.
- Como te chamas?
- Sou a Luana. Quem são vocês?
- Somos irmãos e fomos abandonadas pelos
nossos pais. Eles tratam-nos mal e ainda bem que estamos sem eles.
Era o Tomás a mentir, a mentir muito, como
só ele sabia fazer.
Mas resultou.
- Então, podem ficar aqui. Precisamos de
ajudantes para os cavalos. Aceitam ficar? Se sim, vou falar com o meu pai.
- O teu pai é o chefe?
- É o palhaço rico do Circo. Chama-se
Lucas.
- Aceitamos – disseram todos em coro.
E começou ali a aventura mais fantástica na
vida dos 4 primos.
O Vasco foi dar de beber às pombas do
mágico, o Tó foi limpar o adro do Circo, a Bia iria escovar os cavalos e o
Tomás seria o ajudante do Lucas, às vezes mais triste e às vezes mais contentes.
Na primeira noite, o espectáculo foi mágico.
Os olhos dos primos brilhavam como nunca.
O Tomás foi fantástico como ajudante do
Lucas. Teve tantas palmas que até chorou. Mesmo. Sem vergonha.
Os outros viam-no na plateia e também
aplaudiram.
Á noite, ficaram a dormir todos juntos na
barraca da Luana. Quase nem dormiram como tanta emoção!
No outro dia, tudo voltou a ser muito bom –
comeram um pouco pior do que era costume mas dias não são dias…
Eles não queriam crescer, sair dali.
Mas à noite do segundo dia era chegada a
hora de partir.
Tinham prometido aos pais voltar ao fim do segundo
dia.
E iriam cumprir.
Com pena.
Não se despediram de ninguém para não
chorarem.
Por isso, à noite, bem de noite, puseram-se
em fuga para as suas casas, levando nos bolsos pedaços da aventura.
A Bia trouxe três pelos da crina do
Hércules, o cavalo preto que tinha penteado.
O Vasco trouxe uma varinha mágica que lhe
tinha sido dada pelo Mestre Luminoso.
O Tó trouxe uma pluma amarela da bailarina Tecas.
Até ao próximo ano.
Até ao regresso do circo. A Coimbra. E às
suas vidas.