sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Ódios meus (2)

Ora bem...

Assim sendo, pego em tudo quanto foi dito e faço minhas, algumas ou quase todas, as palavras e desse modo:

Não gosto de hospitais
Não gosto das películas plásticas que envolvem os DVD e os CD
Não gosto de um certo major político axadrezado
Não gosto da voz do Bob Dylan
Não gosto da Mafalda Veiga
Não gosto do André Sardet
Não gosto do Olavo Bilac
Não gosto do Paulo Gonzo
Não gosto de rap
Não gosto do Cláudio Ramos
Não gosto da Maya
Não gosto da(s) Fátima(s) Lope(s)
Não gosto dos CSI
Não gosto da Anatomia de Grey (detesto, mesmo)
Não gosto da Oprah
Não gosto de demagogos cínicos e aristotélicos (para não lhes chamar outra coisa)
Não gosto de dedos erguidos à minha frente
Não gosto de nazis
Não gosto de ratos
Não gosto de política nua e crua, dita profissional
Não gosto de tablóides
Não gosto de tertúlias cor-de-rosa
Não gosto de blogues deliberada e gratuitamente ofensivos
Não gosto de cobardes anónimos agressores em blogues
Não gosto de óleo fígado de bacalhau
Não gosto de leite
Não gosto da Melanie Griffith
Não gosto do Joaquim de Almeida
Não gosto da Meg Ryan
Não gosto do Alan Garcia
Não gosto do José Mourinho
Não gosto do Cristiano Ronaldo
Não gosto do João Pinto
Não gosto da Marisa Cruz
Não gosto desta tropa de "modelos", "actores" e aspirantes a ambos que enchem as televisões como se fossem muito giros e interessantes
Não gosto do "Só Visto"
Não gosto de lamechices tontas
Não gosto de xenófobos, racistas, homofóbicos e quejandos
Não gosto da Ana Drago
Não gosto do Francisco Louça
Não gosto do Paulo Portas
Não gosto do Primeiro Ministro
Não gosto da Clara Pinto Correia
Não gosto da mana dela Margarida
Não gosto do Goucha
Não gosto do Jorge Gabriel
Não gosto da Clara de Sousa
Não gosto do Francisco Penim
Não gosto de "reality shows"
Não gosto da Teresa Guilherme
Não gosto de novelas portuguesas
Não gosto de autarcas em geral
Não gosto de vinho verde
Não gosto de predadores sexuais
Não gosto de adultos maltratantes de crianças
Não gosto dos negócios do desporto
Não gosto de magistrados no futebol
Não gosto de Presidentes de Câmara que não deixam de aparecer, como comentadores, em programas televisivos
Não gosto de justiceiros balofos
Não gosto do populismo
Não gosto de bastonários populistas
Não gosto dos outros populistas
Não gosto de Virtuosos
Não gosto de Puristas
Não gosto de filhos ingratos
Não gosto de errar letras em tEcLadOs de computador (pois...)
Não gosto da Fátima Campos Ferreira
Não gosto do José Rodrigues dos Santos
Não gosto da Manuela Moura Guedes
Não gosto do José Eduardo Moniz
Não gosto da TVI
Não gosto de ninguém da TVI
Não gosto da "Floribela"
Não gosto das "Chiquititas"
Não gosto dos "Morangos Com Açucar"
Não gosto de nenhuma novela da TVI
Não gosto da ASAE
Não gosto da letra dos médicos
Não gosto dos magistrados que continuam a não usar computadores
Não gosto que me dêem Sprite em vez de Seven Up
Não gosto que me dêem Pepsi em vez de Coca
Não gosto que me dêem Campilho em vez de Pedras Salgadas ou Vidago
Não gosto que me dêem Sagres em vez de Super Bock
Não gosto dos ignorantes no poder
Não gosto do pretenso elitismo das classes televisivas (os ditos nossos "vips")
Não gosto de brandy
Não gosto do pretensiosismo/arrogância do MST
Não gosto do Bush
Não gosto do Sarkozy
Não gosto do Chavez
Não gosto da Carla Bruni
Não gosto do Blair
Não gosto da voz do Pedro Abrunhosa, nem dele
Não gosto do Carrilho, da Bárbara e dos bebés Dinises
Não gosto da Catarina Furtado
Não gosto do João Reis
Não gosto de fanáticos
Não gosto de seitas "ditas" religiosas
Não gosto de quem invoca o nome de Deus em vão
Não gosto de burlões
Não gosto das pessoas que ingenuamente se deixam burlar
Não gosto de toques de telemóvel no cinema
Não gosto de canela
Não gosto de literatura pop light
Não gosto de insectos
Não gosto do fumo dos charutos
Não gosto de magistrados que falam alto nos comboios (merece destaque)
Não gosto de magistrados que falam alto em qualquer lado
Não gosto de violações do segredo de justiça
Não gosto de coelho
Não gosto de me deitar cedo
Não gosto de condutores alcoolizados
Não gosto de polícias abusadores de poder
Não gosto de calor em demasia
Não gosto de frio
Não gosto de hotéis sem ar condicionado
Não gosto de água da torneira
Não gosto de irmãos desavindos
Não gosto de relógios parados
Não gosto de psicólogos com ar de mestres
Não gosto de mestres a armar aos psicólogos
Não gosto de pedopsiquiatras
Não gosto do Eduardo Sá
Não gosto dos dias curtos
Não gosto da mudança da hora em Outubro
Não gosto......cansei-me
Não gosto de não gostar...

Ódios de estimação


Apesar de angustiado (ou talvez por isso),
respondo ao repto que me foi lançado pelo outro tratador da magnólia.
Fui ensinado a amar, a gostar.
Mas, como humano, também não sou estranho a alguns rancores de estimação.
Conseguirei enumerá-los?
Tentarei.

Vejamos:

Não gosto de hospitais (está claro)
Não gosto das películas plásticas que envolvem os DVD e os CD
Não gosto de um certo major político axadrezado
Não gosto da voz do Bryan Adams
Não gosto de rap
Não gosto de mão de vaca
Não gosto do Cláudio Ramos
Não gosto dos CSI e quejandos
Não gosto de atar atacadores
Não gosto de calçar meias
Não gosto de demagogos cínicos e aristotélicos (para não lhes chamar outra coisa)
Não gosto de dedos erguidos à minha frente
Não gosto de nazis
Não gosto de cães (desculpem, não devo ser, de facto, boa pessoa, mas um trauma de infância deixou-me assim)
Não gosto de política nua e crua, dita profissional
Não gosto de tablóides
Não gosto de tertúlias cor-de-rosa
Não gosto de blogues deliberada e gratuitamente ofensivos
Não gosto de cobardes anónimos agressores em blogues
Não gosto de óleo fígado de bacalhau
Não gosto de leite
Não gosto da Melanie Griffith
Não gosto do Joaquim de Almeida
Não gosto de predadores sexuais
Não gosto de adultos maltratantes de crianças
Não gosto do perfume ANGEL
Não gosto de wrestling
Não gosto dos negócios do desporto
Não gosto de magistrados no futebol
Não gosto de Presidentes de Câmara que não deixam de aparecer, como comentadores, em programas televisivos
Não gosto de justiceiros balofos
Não gosto de abaixo-assinados de pressão
Não gosto do populismo
Não gosto de bastonários populistas
Não gosto dos outros populistas
Não gosto de filhos ingratos
Não gosto de errar letras em tEcLadOs de computador
Não gosto da Fátima Campos Ferreira
Não gosto de heavy metal
Não gosto da pretensa simplicidade da "Floribela"
Não gosto da ASAE
Não gosto das negligentes e assassinas grafias dos médicos em receituários
Não gosto que me dêem Sprite em vez de Seven Up
Não gosto de anúncios publicitários nas salas de cinema
Não gosto dos ignorantes no poder
Não gosto do pretenso elitismo das classes televisivas (os ditos nossos "vips")
Não gosto de uísque
Não gosto do pretensiosismo/arrogância do MST
Não gosto do Bush
Não gosto do Sarkozy
Não gosto do Chavez
Não gosto de príncipes e princesas
Não gosto da voz do Pedro Abrunhosa (embora ame as suas letras)
Não gosto do Carrilho, da Bárbara e dos bebés Dinises
Não gosto de fanáticos
Não gosto de seitas "ditas" religiosas
Não gosto de quem invoca o nome de Deus em vão
Não gosto de burlões
Não gosto das pessoas que ingenuamente se deixam burlar
Não gosto de toques de telemóvel no cinema
Não gosto de canela
Não gosto de literatura pop light
Não gosto de insectos
Não gosto do fumo dos cigarros
Não gosto de sequelas em cinema
Não gosto de magistrados que falam alto nos comboios
Não gosto de violações do segredo de justiça
Não gosto de sopa a ferver
Não gosto de me deitar cedo
Não gosto de condutores alcoolizados
Não gosto de polícias abusadores de poder
Não gosto de calor em demasia
Não gosto de hotéis sem ar condicionado
Não gosto de água da torneira
Não gosto de irmãos desavindos
Não gosto de relógios parados
Não gosto de psicólogos com ar de mestres
Não gosto de mestres a armar aos psicólogos
Não gosto de andar de avião
Não gosto de livros vendidos em hipermercados
Não gosto de trovoadas
Não gosto de não gostar...

Para quem diz que definir é limitar, desnudo-me em demasia, não?

Harry Potter



Só li um dos livros e vi 3 filmes. Sempre os considerei bom entretenimento. Não sou fã nem da obra nem da personagem. Parece que o Harry(zinho), ou o Daniel Radcliff (se não falho o nome) decidiu ser actor MESMO e foi Teatro (esse altar) dentro.
E logo com Equus, algo que, por si só, é um estertor de esquizofrenia.
Não vi a peça (e estou certo que não a veria mesmo que tivesse tido oportunidade), nem sei como se saiu o pós-adolescente Potter.
De qualquer forma, para mim Equus será sempre o filme com o inesquecível e único Richard Burton e o Peter Firth no papel que o Harry(zinho) desempenhou em palco.

Se puderem...vejam o filme. Até porque a peça já morreu.

Ansiedades


E falando em assuntos que nos angustiam.
Lembrem-se desta senhora, está bem?
Nem preciso dizer o nome... Ingrid chega.

Ninhos de Cucos (2)


Imagino, melhor...sei, o desespero e a impotência que se experimentam nessas ocasiões.
Hospitais deixam-nos particularmente vulneráveis e, por isso, é onde mais essas "sandices" do sistema e das mentalidades nos ferem e desesperam.

Poder-se-ia falar de mais serviços, mas não importa agora.

Que tudo esteja a correr pelo melhor.

E vinha eu destilar ódio contra as TV´s deste país (particularmente uma) e decidi adiar essa manifestação perante tal angústia.
É que há coisas que ficam muito pequenas perante esses "ninhos de cucos" e nós ficamos como esfínges.

Voei sobre um ninho de cucos


Hoje não me apetece falar em cinema.
Nem no tempo.
Nem nas palavras.
Quero indignar-me neste fim de dia 28, início do dia que só vivemos de 4 em 4 anos.
É que hoje vivi uma via-sacra
pois assisti, in loco, à loucura institucionalizada em meio hospitalar.
Ente querido teve de recorrer a um serviço de Urgências deste país.
O que vi durante as 11 horas que ele esteve aí retido é kafkiano.

Protestei. Fui olhado de lado.
Um silêncio estranho e conformado invadia aquelas mentes cansadas de tanto esperar.
Uma alma disse-me que precisavam deles - dos médicos.
E por isso se calava.
Pois.

E assim se vai vivendo à espera do anjo final.

Onze horas sem uma bolacha que fosse, sem uma palavra que fosse,
com funcionárias administrativas que, perante tanto desespero de familiares e de doentes, riam a bom rir com a última anedota do bairro ou da crónica feminina...
Entrado às dez horas, foi atendido às 4 da tarde, e com pulseira verde.
Sózinho, entregue aos bichos que pululam pelos corredores daquelas urgências, esteve ele...
No mesmo hospital que, em Agosto de 2007, o deixou à espera, durante seis horas, de uma máquina de TAC, pretensamente avariada.
E o acidente vascular cerebral, que veio implacável nesse dia estival, instalou-se, ufano, em toda a sua plenitude já que não encontrou qualquer resistência (leia-se tratamento imediato).
Por isso, não me conformo.

Foi perto daqui.
Em Leiria.
Num Hospital que tem nome de santo mas que de pouco santo tem.
Santo André de sua justiça.
Para que conste.
Porque não tenho medo de quem mais poder tem por poder ter a vida das gentes debaixo do poder da sua mão, da sua (má) grafia e do seu palpite.

Disse.


Em tempo: Dorme bem, meu pai. A esse nunca mais te levo. Desculpa!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

A crueza dos actos e o lado lunar das palavras

Enquanto uns trabalham...

... outros falam!
Quem fez Tebas, a das sete portas?

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O tempo e o medo


Já que falamos de tempo,
deixem que vos deixe aqui um hino à falta dele.

À vil e implacável moléstia
que nos consome as vidas e
nos inunda os poros.

Por nossa causa.
Por causa não natural.
Suicídio anunciado, tantas vezes, pois então.

Por isso, nunca é demais avisar, gritar, apelar, suplicar:
Tenham medo, muito medo
e, sobretudo, muito cuidado.

A dança dos corpos e o ferrete do tempo dá nisto:
Em tempo:
Não resisto. No link abaixo identificado, encontram o documento da SEDES que tanta tinta tem feito correr nos últimos dias.
Já que se fala em tempo... e em medo!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O Tempo (2)

O Tempo? Como diria Yourcenar O Tempo Esse Grande Escultor (livro arrebatador).... o tempo faz-nos pensar na efemeridade de tudo, na linha ténue que nos separa da morte e da eternidade e da memória (quando há quem a cultive e divulgue). O Tempo amadurece, cresce, fortalece, por vezes até parece que rejuvenesce, alimenta, é um óptimo elemento dilatório de tantas coisas, revela, esconde... e Mata....... o Tempo é nosso e nós somos dele. Daí esta nossa fixação nele...

O Tempo esculpe, de facto, aquilo que somos e em que nos transformamos....esperemos que seja sempre para melhor. "O Tempo, esse grande escultor"......belo livro de Marguerite Yourcenar da DIFEL

Algo que faz falta a todos nós. E, se puderem, leiam "As Memórias de Adriano" da mesma autora... uma lição de vida e força. Até breve.

Tempo e Palavras

(O tempo amarrotado após uma colisão com palavras)


Jogo as palavras contra o Tempo (que sai amarrotado)
E vigio as mentes de tanto querer
Amordaço as bocas desbocadas
E penso, mansamente, o que tenho a dizer

Alimento as bucólicas e quentes estrofes
Sirvo rimas com molho de esperanto
Que guardo na gaveta das brancas pombas
Aquela onde tenho salpicos de riso e pranto

Jogo o Tempo contra as palavras
E vigio o querer de tanta mente
Desemboco nas mordaças de tantas bocas
E digo o que toda a gente não sente

O Tempo joga-me contra as palavras
Elas que me ensinam a grandeza de um talvez
Não me desenham o sim e o não
Elas que são a porta aberta para a loucura de tanta tez

E eu, rugindo de meia em meia conversa (tripulando uma bicicleta de fundo)
Depois de arrumar as palavras (com todo o tempo do mundo)
Vou dizendo o que tenho (realmente) a dizer

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Era uma vez na América





























Bingo! Quase em cheio!

Afinal, só fui surpreendido pela jovem francesa Marion Cotillard (esperemos que não fique por este "biopic" da Piaf e confirme a honra que os States lhe dão, depois da outra francesa Signoret ter dado cartas no Novo Mundo, após o seu Oscar em 1959) que me roubou a estatueta à Blanchett.
Hollywood está, de facto, a mudar - nem um actor americano entre os oscarizados e a palavra de comando é agora dos independentes.

Ficam aqui os rostos.
Para a posteridade.
Do Daniel (não me canso de o louvar como actor) e da Marion.
Da Tilda (uma justa lembrança para a actriz misógina de "Orlando" após tantos anos de luta por um lugar ao sol) e do Javier (que veio para ficar).
E do cinema dos brothers Cohen (que deixaremos que continuem a brincar no canto dos seus pátios) que, de forma bem negra e pouco convencional, filmaram "No Country for Old Men".
Já agora, a emissão televisiva da TVI foi discreta e correcta.
Aplaudo.
Em tempo:
Ouçam aqui uma canção de outro mundo, oscarizada esta noite. O filme é "Once" e espero que tenha projecção nacional.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Um país chamado Oscar



É já lendária esta noite que se segue a este dia 24, a noite branca que, há muitos, muitos anos, passo defronte à televisão para assistir, live, à noite das outras estrelas que me espantam por vestirem outras peles, outras histórias, outros enredos.
Deixo aqui os meus vaticínios e as minhas vontades para a noite do Kodak Theatre, em Los Angeles.

Assim...
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Melhor Filme
Vai ganhar - No Country For Old Men (Este país não é para velhos)
Gostaria que ganhasse - Atonement (Expiação)
Melhor Realizador
Vai ganhar - No Country For Old Men (Ethan and Joel Cohen)
Gostaria que ganhasse - There will be blood (Paul Thomas Anderson)
Melhor Actor Principal
Vai ganhar (o que eu gostaria que ganhasse) - Daniel Day Lewis (de caras!)
Melhor Actriz Principal
Vai ganhar - Julie Christie
Gostaria que ganhasse - Cate Blanchett (a melhor actriz viva actual)
Melhor Actor Secundário
Vai ganhar (o que eu gostaria que ganhasse) - Javier Bardem (o Paul Dano de "There will be blood" seria o único que poderia fazer-lhe frente, mas foi olvidado nas nomeações!)
Melhor Actriz Secundária
Vai ganhar - Tilda Swinton
Gostaria que ganhasse - Cate Blanchett (seria inédito - e mais do que justo)
Melhor Fotografia
Vai ganhar - There will be blood (Haverá sangue)
Gostaria que ganhasse - Atonement (Expiação)
Melhor argumento original
Vai ganhar (o que gostaria que ganhasse) - Juno (notável argumento)
Melhor Argumento adaptado
Vai ganhar - No Country for Old Men (Este país não é para velhos)
Gostaria que ganhasse - Atonement (Expiação)
Melhor Direcção Artística
Vai ganhar - Atonement (Expiação)
Gostaria que ganhasse - Sweeney Todd, The Demon Barber of Fleet Street
Melhor Banda Sonora
Vai ganhar (quem eu gostaria que ganhasse) - Atonement (Expiação)
Melhor Filme de Animação
Vai ganhar (quem eu gostaria que ganhasse) - Ratatouille
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Os dados estão lançados.
No país dos Oscares.
E que os comentadores da TVI nos deixem saborear o espectáculo sem comentários cretinos, despropositados, erróneos e perturbadores do doce som original da língua de Shakespeare (sorry, Gui, for this sacrilege!).

Voltarei de madrugada (mesmo).

Como um vingador.

Espalhando magnólias e notícias do novo Mundo.

sábado, 23 de fevereiro de 2008



Pontes...Rios...Mares...

Artistas...Ou nem tanto...

Tudo em nome da amizade, que se quer palpitante, quente e sempre disponível

E sempre pronta.

Nem sempre correspondemos.

A maior parte das vezes sem culpa. Quase sempre.

Mas estamos lá sempre.

Se não for em corpo...é em espirito.

Isso é uma certeza.

Para P. e C.

Eu.

Sem foto

Rasgar. Rasgar este nome, rasgar este chão.
Sentir a luz rasgar a manhã, e
aos poucos entrar nesse brilho que cega….
aos poucos deixar rasgar o meu corpo nessa luz a entrar.
Quis ser tanta coisa…
Serei outras tão diferentes…
Rasguei do teu peito um pouco de paz, e rasguei-te a ti sem chegar a rasgar.
Cheirar este mar onde me não quero molhar,
Salpicar em teu corpo estas gotas de sal.
Rasgar este nome que grito ao luar.
Colar esta vida que me fizeste rasgar.

Sem Pontes


Sinto o cheiro do mar a invadir-me as narinas.
Embriagado pelo aroma entrego-me ao vento que me leva sobre as ondas.
Estendo-me na areia,
e deixo o meu corpo esfregar o cansaço na carícia dura dos grãos.
O sol purifica-me os poros,
e o beijo quente do astro provoca-me tremuras de emoção.
E na água mergulho deixando-me abraçar pelos frios e espumosos braços salinos.
À natureza me entrego num cio estonteante.
A minha nudez passiva recebe os ímpetos e furores de uma natureza bela e pura.
E nesta simbiose, encontro-me novamente.
E volto ao rochedo onde contemplo, sereno, um espaço real.
E sonho então…

Pontes

















Quando se aproxima o dia em que Simone (a 2ª mulher que melhor cantou em Portugal) celebrará 50 anos de carreira,

Quero trazer-vos, aqui, ecos da mulher que melhor canta em Portugal.

Não, não é essa fadista de caracóis loiros, mas uma outra que é capaz de escrever - ela mesma - uma letra com aquela que reproduzo em seguida e de cantar um tema de Piazzolla ("Balada para un loco") com uma voz de além-terra, qual Maria de Buenos Aires, ave mais do que perfeita.

Ela é ilha, água, fogo, ar e terra, dona de um coração que tem três portas...
Dulcemente, é ponte.

Senhora
Que dor,
ai Senhora do tempo, que fizeste de mim, que fizeste de nós
Quebraste o feitiço das horas e sem mais demoras ficámos a sós.
Que dor
ai Senhora dos partos, meus seios estão fartos de água a correr
Senhora, porque morro agora de mágoa no ventre quando vou nascer?
Quisera eu, voltar atrás?
Envolver meus pedaços na bruma, loucamente.
Quisera eu, sentir a paz! Arrancar das entranhas o céu.
Que dor,
ai Senhora dos loucos, meus passos são poucos, pouca a minha fé.
Senhora
arrancai esta dor, estes traços do amor e os laços até!
Que dor, Senhora dos aflitos,
Cessai estes gritos, Quebrai este nó.
Senhora, porque nasço agora e não aprendo a ser só, não aprendo a ser só?
Quisera eu, voltar atrás?
Resgatar meus pedaços da bruma, mansamente.
Quisera eu, sentir a paz! Arrancar das entranhas o céu!
Que dor,
ai Senhora serena,
Levai minha pena, Sarai minha tez,
Senhora,
Senhora dos passos
vou abrir os braços e amar outra vez!

(Dulce Pontes)


(Balada para un loco)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Dueto





São duas mulheres que se confundem.
Não são irmãs, nem sequer gémeas,
são ferro e fogo, princípio e fim uma da outra.

Uma delas conheço-a melhor que ninguém.
E venero-a.
Por ser capaz de plantar magnólias no penedo mais breu.

Naquele canto sofrido da memória,
sofre em silêncio a outra mulher
Uma lutadora de corpo e face inteira
Que à primeira deu vida, avenidas, mundos.

A primeira age.
Busca ventos na Abissínia.
Encomenda elixires da Nicarágua.
Inventa remédios que não curam.
Soletra poemas com o olhar e com a sua vontade indómita de ver a outra ainda neste mundo,
Por mais um minuto que seja...

E aquela outra mulher
tudo vê paciente,
sabe que vive por ela
e aguarda o instante derradeiro da sua própria rendição,
como que para não lhe causar um desgosto ainda maior...

Vejo-as todos os dias.
E o meu espanto não para de me sublimar.

O elo divino entre estas duas mulheres arranca-me do tédio da vida normalizada,
dos uns e dos outros,
dos que teimam em ter sucesso na vida,
sem curar de regar as raízes de que brotaram.

Não sei que força move uma.
Não sei que compromisso maior retém a outra.

Só sei que o vento que irrompe de uma é o ar que ainda sustém a outra.

À C. e à F.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Maria Madalena - sem sombra de pecado

(à I.)

Entraram em tua casa com uma fome inabalável
E fizeram silêncio face à tua nudez de marfim

Pagaram a despesa com os tostões da cumplicidade
E atiraram-te as pedras que pesavam nas suas albardas

Ocuparam, de novo, seus públicos tronos
E levaram suas fêmeas aos banquetes da fartura

Receberam as queixas das gentes esfaimadas
E comeram as uvas que os outros colheram

Pensaram, ludicamente, no Corpo
E bateram à porta de Madalena...

Mas Madalena já não estava lá:
Tinha ido para a Montanha!

Matisse


Je travaille tant que je peux et le mieux que je peux, toute la journée.Je donne toute ma mesure,tous mes moyens.Et après, si ce que je fais n'est pas bon, je n'en suis plus responsable, c'est que je ne peux vraiment pas faire mieux." Henri Matisse

Chagall


Desculpem, mas esta noite falei deste sublime artista e não resisti.

Conhecem a Opera Garnier em Paris ? e o fabuloso tecto ? um poema em tintas.

Chagall é, sem dúvida, uma magnólia....

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O poema perdido


Estou desolado.
Arrancaram-me um poema.
Directamente da página do livro.

Decidi colocar um anúncio no jornal.
Rezava assim:

Desapareceu um poema da gaveta do seu autor.
Eis os seus sinais particulares:

"Bates as mornas palavras com o coração
E regas o sonho com um quente/frio de poesia
Serves uma pitada de salgadas rimas
E mastigas o petisco com o licor da alegria

Como sobremesa, um romance de erva-doce
Acompanhando o glacé da tinta de máquina
Levantas a mesa, sujando as muitas folhas rasgadas
E ligas o som onde alguém canta em surdina

Recebes os amigos já gastos de tanta vez
E voltas a servir um prato de estrofes
Acendes a lareira, em esquentado Agosto
Recolhendo as fagulhas que guardas na gaveta

Acendes um encantado paiol de néctar
Que já serviu de mel a mil e uma sensações
Vais à duna da praia - aquela - escutar a espuma
Levando notícias dos operários da palavra

Voltas, enfim, para o teu celebrado abrigo
Pegas nas fagulhas já frias de tanto esperar
E, aquecendo-as com as mãos e com o teu bafo,
Crias, em segundos instantes, um novo ser"

Ofereço um poema a quem o encontrar.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

SOL


Se o Sol me chama...eu vou
Porque nada como a chama do Sol para apagar o calor do Luar.

Tio Sam


O tio Sam é uma variedade de sentimentos.
Contra ele, em si, nada....
Contra o actual rosto dele...Tudo.
Quanto aos USA...entre o parolo mais risivel, a manipulação televisiva mais básica (v.g. Oprah) e quejandos...ainda os aprecio e gosto.
Mas, à distância e só em visita....aquilo tem muita porcaria entranhada no dia-a-dia daquela gente. Muita intolerância, muita ignorância (MUITA MESMO), muita saloice, muito bloqueamento mental consequente de tudo o resto que ficou dito.
Mas viva o tio Sam pela liberdade (pelo menos aparente e, até ver, verdadeira)
Só não me falem do Tom Cruise e/ou da Cientologia que sou capaz de vomitar e matar alguém. Seja lá de qual falem.

God bless America


Gosto do Tio Sam.
São coisas minhas.
Não de todos os tios, mas deste gosto.
Não daquele que está no poleiro mas daquele que vive no Grand Canyon, que desce os rápidos do Tenessee e que adora cantar "godspel".

O do poleiro?
Dizem que é assim que ele vê o Mundo (clique na gravura para a ver melhor).
Lembram-se do Charlot a brincar com o globo terrestre?

Mas gosto do Tio Sam.
A sério.
É a minha costela imperalista (a big kiss, my dear granny).

Desculpa, Gui, mas também gosto muito da Paula Rego.
São causas perdidas, mas minhas!


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Sangue negro


Aproxima-se a grande noite.
E vou conseguindo visitar os filmes mais nomeados.
Ontem, trouxe-vos o filme de Joe Wright.
Hoje o da outra "magnólia", Paul Thomas Anderson.


Não pretendo mais do que saudar, aqui, uma das melhores - talvez a mais poderosa- interpretações que vi sair do talento de um actor.
Daniel Day-Lewis é superlativo neste retrato de um outro "Citizen Kane", "bigger than life", em busca de "óleo" negro (um outro nome para o sangue da terra) numa América de princípio de século.
Day-Lewis, que só filma quando quer e com quem quer, casado com a filha de Arthur Miller, depois de um misterioso e atormentado romance com outro enigma do Cinema, Isabelle Adjani, arrisca-se a ser hoje o nosso (da aldeia global) melhor actor vivo.
Sem método.
Sem Strasberg.
Só com gana.

E com o sangue que acaba sempre por aparecer.
"There will be blood..."


Curiosidades sobre este filme:


- O realizador Paul Thomas Anderson declarou que assistiu a O Tesouro de Sierra Madre (1948) na noite anterior ao início das filmagens de "Haverá Sangue".

- Daniel Day-Lewis aceitou o convite para actuar neste filme por se ter tornado fã de Paul Thomas Anderson ao assistir ao seu filme anterior, Embriagado de Amor (2002). Segundo a produtora JoAnne Sellar, caso Day-Lewis tivesse recusado o papel, o filme não seria feito (vendo-o, percebe-se porquê).

- Daniel Day-Lewis teve um ano para se preparar para o seu papel.

- Paul Dano (o irmão disfuncional de "Uma família à beira de um ataque de nervos") declarou em entrevista que fora inicialmente contratado apenas para interpretar Paul Sunday, com outro actor sendo escalado para interpretar Eli Sunday. Entretanto após Dano rodar uma cena como Paul Sunday, o realizador Paul Thomas Anderson resolveu dar-lhe esta personagem, que era um papel bem maior. Posteriormente Anderson alterou o argumento de forma a que Paul e Eli Sunday fossem gêmeos idênticos, o que permitiria que Paul Dano interpretasse ambos.

- Dillon Freasier não era um actor, mas um estudante que vivia próximo da localidade onde foram feitas as filmagens. Os produtores tiveram de convencer a sua mãe para que o garoto pudesse interpretar H.W. Plainview (o filho do nosso herói) no filme. Como não conhecia Daniel Day-Lewis ela alugou "Gangs de Nova Iorque" (2002) e, após assisti-lo, ficou horrorizada com a possibilidade do filho conviver algum tempo com o homem que viu no filme. Foi então que os produtores lhe forneceram uma cópia de "A Idade da Inocência" (1993), também protagonizado por Day-Lewis, no qual interpretava um homem mais do que gentil.

- As filmagens ocorreram entre 5 de Junho e 25 de Agosto de 2006.

- O 1º diálogo do filme apenas é dito após 11 minutos e 33 segundos.


domingo, 17 de fevereiro de 2008

Expiação - o peso vivo do remorso




O filme é um poema intenso.


É cortado por matracas de máquina de escrever que vão marcando o ritmo da trama,
o acre pulsar das culpas e dos remorsos das personagens.
Há erros passados que não se redimem,
há paixões juvenis não correspondidas que são o motor da mentira,
há amores eternizados e nunca consumados,
há camélias bélicas que florescem no meio dos dejectos humanos.

E vejo a Cecília (outro rosto para a mais do que perfeita Keira).
E há o Robbie, o da palavra assassina,
a que é proscrita para a moral da época mas pensada e em má hora escrita.
E vejo ainda Briony, aquela que sente necessidade de absolvição mas que tarda em a ver chegar,
tão difícil é o seu caminho até si.

A música perpassa o âmago da gente,
Trespassa-a, corrompe-a, dilacera-a.

O 22º romance de Briony será, para todo o sempre, o melhor da sua vida.
Aquele que constitui a derradeira confissão da verdade,
uma outra palavra para a mentira dita com a maior das sinceridades.
Aquele que fará com que não mais tenha de pedir desculpa.

A fita é um poema. Todo ele.
Está em exibição.
Em Coimbra.

Vicissitudes


Há coisas que, aparentemente, parecem muito longe, mas estão perto..........
E na Arte Tudo é próximo e íntimo....

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Hollywood


É Sábado.
Hora das fitas. Das outras.
Fecham-se as luzes da sala
E arranca, entre marcas de perfumes e beatas adormecidas na boca do público, o filme...
(...)
As cores perpassam o mágico écran
E as solidões tornam-se acompanhadas
Naquela jaula de feras soturnas, brancas ou negras, coloridas ou desbotadas
Que pedem licença à norma para chorar
Há quem ponha o sono em dia ou em noite
Há quem boceje à espreita do segredo incontável
Há quem desespere de tanto esperar pelo proibido
Há quem abandone o palco porque o tempo dita regras
Lá em cima, indiferentes aos leopardos que vêem sem olhar,
Movimentam-se as divas e os galãs
Os Arlequins e as Salomés
As Garbos e os Valentinos
As Garças e os Cisnes
Os Cucos e os cavalos que também se abatem
Os cowboys alternativos e as magnólias em forma de sapos caídos do céu zangado
Os pacientes ingleses, os fiéis jardineiros, os príncipes das marés
E mais os Capelos Gaivotas, os inadaptados e os padrinhos
Os carros assassinos, as Cleópatras, as Gildas e as Sabrinas
Tudo rodopiando ao som da balada mais dolente do mundo,
Aquela que sai da voz de Norma Jean
Tudo flamejando pelo rubro da harmonia de Francis Lai,
Gershwin ou Armstrong
Tudo sapateando ao cheiro flamengo dos saleros, das valsas disfarçadas em tangos
E as plumas? Essas enfeitam o pó de arroz da Crawford, os olhos sôfregos da Binoche.
Os assobios da Bacall, os olhos da Davis, a boquilha da Audrey, o nariz da Streisand
Iluminam o plateau de serpentes enfeitiçadas
Os batuques demorados do Nilo, as escadarias palacianas de Sabá
Os crepúsculos dos deuses que teimam em não dormir
As lantejoulas sossegam os rouxinóis
E Los Angeles respira de alívio
Porque as limosines continuam paradas em Beverly Hills
(...)
Repentinamente, as luzes acendem-se
O filme "pifou e a turma toda logo vaiou"
Mas eles e elas amam de papel passado,
Disfarçam os risos em lágrimas
Hão-de voltar quando forem de novo convocados
E só por isso são perdoados
(...)
E afinal continua a ser Sábado
Na fita da vida da gente que segue sempre dentro de momentos...


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Guernica


Quando repicaram os sinos em Guernica
Carmen limpou as lágrimas, despiu o ébrio homem, deitou-o no leito e correu para a arena
Munida de uma rubra verónica para afugentar os touros de morte
que lhe amarrotavam a solidão

Viu, então, Juan espirrando sangue
E gritou entre buzinas e saleros

Quiseram calar sua dor com o eco da metralha
E libertar a Espanha - apenas um outro nome para uma prisão - com os canhões da palha seca que atearam
Mas Carmen ergueu-se, cega de espanto, e voltou para o leito
Onde se aninhou junto da sua infelicidade

Quando se soube da vil sorte de Carmen e de Juan
Até Bizet inventou óperas de raiva
E Picasso trocou os anéis pelos pincéis

Em Guernica eram negros, de um ruidoso breu,
Os sorrisos cansados das mulheres que não gostavam de tourada

Normalização

Ai que saudades de espaços normalizados...
Private joke

Só queria ousar tudo quanto penso...

Insistir em tudo quanto emperro...

Usar tudo quanto nego...

Ouvir tudo quanto desdenho...

Só queria ter Tempo...Muito Tempo...

Metade arrancada de mim

(...)
Porque metade de mim é abrigo
E a outra metade é cansaço

Porque metade de mim é plateia
E a outra metade é canção...

(...)

Oswaldo Montenegro

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Afinidades electivas (a propos de Valentin)


Eva... ave

Entrego o pôr-do-sol nas tuas mãos
E procuro a mundividência fora dos teus olhos (embora por eles queira ver o mundo)
Sou um salteador de trovas perdidas
Domesticador do azul que de mim brota

Se te disserem que não te mereço
Pensa que o azul sempre se deu bem com o fogo que te amarrota...

Sabes, esperarei sempre por ti, mesmo que chegues a horas pardas!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Diabo ? Anjo ?


Sempre que o mar afaga as rochas, e o vento sopra em redor, espalhando o cheiro do sal e das algas, sinto que estou no meu ambiente. Seja a força demolidora e letal de tais elementos, seja a beleza natural dos mesmos, seja o imaginário associado....Gosto. Se é uma força do bem ou do mal...não me interessa. Sei que é Forte e Intenso. E o mar é o princípio e fim.

Olha quem ali vem...


Eis que alguém se aproxima desta magnólia...
Olha-a, vê-a dourada no chão e... pega-lhe.

Para sempre.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Calendário


Fui ver o Inverno
E ele não me recebeu
Estava com compromissos inadiáveis:
Fazer chover no Deserto do Namibe
Recolher a neve no centro de Casablanca
Limar a geada que cai no Ceilão
Arrefecer o granizo das terras da suada África
Acalmar os furacões que arrasam Manhattan
Libertar os relâmpagos e os moribundos ramos que tombam sobre as hortas de Díli
E apressar o vento suão que mina Delft

O Senhor Verão apanhou-me, então, no caminho:
Ia apressado sossegar os oásis de Rabat
E esquentar os espíritos nas nórdicas praias, perto do sol da meia noite e do luar do meio-dia
Não me falou, nem o interpelei:

É que, sabem, venero o Inverno
Outonal ou primaveril
Insano passageiro das neves azuis do Klimanjaro
E dos negros baixios do Himalaia

Ele sossega-me com o seu véu púrpura
Perto dele não precisamos de fingir

Amo eternos invernos, sobretudos que queimam,
A lareira da tua mão que me afaga,
O fogo aceso daquela brisa que passa e repassa
E que voltará, triunfante e solene,
Um ano depois, perto do nada,
Numa outra página de calendário
Mais velha, mais suja, mais minha...


Fui ver o Inverno
Mas ele não estava em casa - tinha partido para as férias de Verão!

Breaking the waves


Não há ondas capazes de fazer calar a paixão que consome o olhar infantil de Bess.

Na velha Escócia, perto de solenes campanários sem sinos que repiquem ao som dos corações, ela e Jan são os amantes completos, as serenas tempestades que vão temperando a frieza daqueles velhos calvinistas que encomendam almas para o inferno como se pássaros fossem.

Poemas soletrados a duas vozes, estes dois paladinos do Sonho ainda conseguem ouvir Leonard Cohen, os mesmos sinos que naquela igreja não existem, as sonatas e as tocatas feitas da ternura das águas felizes que lhes irrompem dos corpos, os suores salgados com que confessam o seu amor recíproco.

Com o corpo parado nos interstícios da memória, Jan esmorece por não se lembrar do amor. Pede a Bess que lho traga servido pelas palavras dos corpos alheios, pela lembrança quente das cálidas noites vividas com aquela mulher diferente, que sabe ler as estrelas e falar com Deus. Pensando que, assim, insufla vida nas veias mudas de Jan, ela não hesita e entrega-se aos homens errados, marinheiros de mares incógnitos, donos de sexos iguais aos outros.

Nessa altura, e sem nunca despir as meias pretas com que se vestia para matar o desespero, Bess foi sacudida por um vendaval de preconceito, olhada como aquela meretriz de bairro negro e sujo que não se rende às penas.

Ninguém compreende o amor que aquela filha dos anjos sente por aquele intruso, ninguém sabe que ela morre para que Jan possa viver...

Na velha Escócia ainda acontecem milagres, ainda se podem ouvir os sinos do riso de Bess, naquelas noites em que as estrelas parecem tocar as almas, em que Deus responde a quem lhe pede ajuda, aceitando que, afinal, rezar é olhar para dentro de cada um de nós, um ir e voltar sem nunca sair do mesmo sítio - ufana e redentora, a lua ilumina o acordar de Jan que, ao longe e de olhos cerrados, ainda consegue ver Bess sorrir... Bess não morreu em vão - é que sempre existem silêncios inocentes!


São estas as ONDAS DE PAIXÃO que Lars Von Trier nos legou.

São ondas que não molham, só nos tocam... Para sempre, mesmo saídas do circuito comercial!


p.s. Não justifico o texto pois quero-o como as ondas - desordenado...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Recados e delírios de um bom deus



Baz Luhrmann, o realizador de "Romeu e Julieta" e de "Moulin Rouge", engendrou e encenou este poema visual que hoje vos ofereço.

Fala, por acaso, de filtros solares, de meio ambiente e de homens e mulheres (vistos ao espelho, vistos sem espelho, vistos por espelhos)...

Muitos. Todos.

De mim. De ti. Dele. Dela. De nós. De vós.

E, sobretudo, dos outros, aqueles que são o outro lado de nós, do lado de lá do espelho onde só cabe a Alice.


To J.



Visualizem (não cabe na minha magnólia, dado o tamanho do recado)em:
http://www.youtube.com/watch?v=xavFb4WH7o0
ou em
http://www.youtube.com/watch?v=sTJ7AzBIJoI

domingo, 10 de fevereiro de 2008


Acabei de ler o livro de Inês Pedrosa, A Eternidade e o Desejo.

Recomendo vivamente.

Pela prosa. Pela mistura de sentimentos contraditórios que nos incute. Pela perplexidade das reacções e das relações humanas. E por Vieira.

Se eu o quisesse continuar, essa continuação poderia passar pelo desenvolvimento da seguinte sinopse:


Sebastião olhava o rosto de Clara na tela, perdida no meio de uma canção de Caetano, feita para aquele filme, em tom de lamúria, de aconchego. O riso daquela mulher continuava, contudo, a ser a sua música favorita.
A fita de Emanuel Viana tinha estreado na Baía, terra daquela mestiçagem mais potente do que toda a história, daquela virtude maior chamada independência, naquela etérea noite de 18 de Julho, dia exacto em que o António que pregava aos peixes tinha fechado os olhos para quase todo o sempre...
A história do filme contava-se em poucas linhas: Clara amava António, homem de homens e mulheres, que, ainda casado com a outra Clara, encontrara conforto sexual nos braços de Emanuel, este, casado com Tatiana e com um filho chamado Alexandre. A paixão entre os dois homens foi muito voraz – certo dia, numa praia, António chegou para dizer a Emanuel que estava tudo terminado entre eles. Alexandre estava sozinho no mar e, distraído e destroçado pelo veredicto do seu amante, Emanuel nem sequer conseguiu assistir ao afogamento de Alex. Cego de raiva e dor, movido pelo (ainda) desamor, Emanuel decidiu, então, matar António, o que fez quando ele estava num bar, a horas pardas, àquela hora em que Clara, a protagonista, ali apareceu para se reentregar aos braços do seu amado. Uma bala partira sem aviso e tirou a vida a António e cegou Clara. Emanuel desapareceu mas nunca esqueceu o rosto de Clara. Um dia, numa visita a um museu, Emanuel reviu Clara, claríssima em sua beleza cega. E convidara-a para um filme. Aquele. E amou-a como se ama só uma vez na vida. Como uma espécie de expiação e de pedido de perdão. Até que, perto do fim da película, um beijo seu acendeu os olhos de Clara que passou, enfim, a ver …
Ao lado de Sebastião, estava uma outra Clara, apaixonada pela eternidade do desejo daquele homem, pela sua silenciosa paixão pela actriz do filme, agora sua melhor amiga. Essa Clara era a outra. A mesma. Então, calado, Sebastião chorou, como daquela vez dentro de um carro ermo, ao lado de um amigo de quem já nem sabe o nome, pela memória do outro amigo que matara e pela raiva que então, lenta e finalmente, o abandonava de vez…


No fundo,

há sempre uma rosa púrpura do Cairo a querer saltar da minha jarra de magnólias.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Retrato em Pessoa - a felicidade exige valentia


"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas não esqueço que a minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e tornar-se um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Fernando Pessoa

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Raízes de nós


A cidadela anda triste.
Sonolenta.
Cabisbaixa.
Nos corredores de um hospital, recupera, pouco a pouco, um autor de muitos dias, após um estúpido incidente que lhe retirou a voz com que sempre, razoavel e ponderadamente, deu ordens a dois filhos e os dirigiu.
No branco quarto de uma moradia coimbrã, perto da saudade de todos nós, luta pela vida uma mulher ímpar, capaz de comandar sete filhos - que ama como poucas -, capaz de soletrar afectos surdos mas eficazes, capaz da maior generosidade desta vida, dona do olhar mais brilhante e mais profundo que alguma vez conheci.
Os dois conhecem-se. Admiram-se.
São amados.
Demais...
A cidadela continua triste.
O veludos dos seus olhares tocam-nos.
A força dos seus interiores chega-nos, sem aviso.
O ruído dos seus silêncios forçados anima-nos.
Os anjos bons segredam aos seus ouvidos recados de melhores dias, de sonatas inacabadas que ainda necessitam de um acerto final.
Ele chama-se Joaquim. Por missão.
Ela é Fátima. Por convicção.