Acabei de ler o livro de Inês Pedrosa, A Eternidade e o Desejo.
Recomendo vivamente.
Pela prosa. Pela mistura de sentimentos contraditórios que nos incute. Pela perplexidade das reacções e das relações humanas. E por Vieira.
Se eu o quisesse continuar, essa continuação poderia passar pelo desenvolvimento da seguinte sinopse:
Sebastião olhava o rosto de Clara na tela, perdida no meio de uma canção de Caetano, feita para aquele filme, em tom de lamúria, de aconchego. O riso daquela mulher continuava, contudo, a ser a sua música favorita.
A fita de Emanuel Viana tinha estreado na Baía, terra daquela mestiçagem mais potente do que toda a história, daquela virtude maior chamada independência, naquela etérea noite de 18 de Julho, dia exacto em que o António que pregava aos peixes tinha fechado os olhos para quase todo o sempre...
A história do filme contava-se em poucas linhas: Clara amava António, homem de homens e mulheres, que, ainda casado com a outra Clara, encontrara conforto sexual nos braços de Emanuel, este, casado com Tatiana e com um filho chamado Alexandre. A paixão entre os dois homens foi muito voraz – certo dia, numa praia, António chegou para dizer a Emanuel que estava tudo terminado entre eles. Alexandre estava sozinho no mar e, distraído e destroçado pelo veredicto do seu amante, Emanuel nem sequer conseguiu assistir ao afogamento de Alex. Cego de raiva e dor, movido pelo (ainda) desamor, Emanuel decidiu, então, matar António, o que fez quando ele estava num bar, a horas pardas, àquela hora em que Clara, a protagonista, ali apareceu para se reentregar aos braços do seu amado. Uma bala partira sem aviso e tirou a vida a António e cegou Clara. Emanuel desapareceu mas nunca esqueceu o rosto de Clara. Um dia, numa visita a um museu, Emanuel reviu Clara, claríssima em sua beleza cega. E convidara-a para um filme. Aquele. E amou-a como se ama só uma vez na vida. Como uma espécie de expiação e de pedido de perdão. Até que, perto do fim da película, um beijo seu acendeu os olhos de Clara que passou, enfim, a ver …
Ao lado de Sebastião, estava uma outra Clara, apaixonada pela eternidade do desejo daquele homem, pela sua silenciosa paixão pela actriz do filme, agora sua melhor amiga. Essa Clara era a outra. A mesma. Então, calado, Sebastião chorou, como daquela vez dentro de um carro ermo, ao lado de um amigo de quem já nem sabe o nome, pela memória do outro amigo que matara e pela raiva que então, lenta e finalmente, o abandonava de vez…
No fundo,
Sebastião olhava o rosto de Clara na tela, perdida no meio de uma canção de Caetano, feita para aquele filme, em tom de lamúria, de aconchego. O riso daquela mulher continuava, contudo, a ser a sua música favorita.
A fita de Emanuel Viana tinha estreado na Baía, terra daquela mestiçagem mais potente do que toda a história, daquela virtude maior chamada independência, naquela etérea noite de 18 de Julho, dia exacto em que o António que pregava aos peixes tinha fechado os olhos para quase todo o sempre...
A história do filme contava-se em poucas linhas: Clara amava António, homem de homens e mulheres, que, ainda casado com a outra Clara, encontrara conforto sexual nos braços de Emanuel, este, casado com Tatiana e com um filho chamado Alexandre. A paixão entre os dois homens foi muito voraz – certo dia, numa praia, António chegou para dizer a Emanuel que estava tudo terminado entre eles. Alexandre estava sozinho no mar e, distraído e destroçado pelo veredicto do seu amante, Emanuel nem sequer conseguiu assistir ao afogamento de Alex. Cego de raiva e dor, movido pelo (ainda) desamor, Emanuel decidiu, então, matar António, o que fez quando ele estava num bar, a horas pardas, àquela hora em que Clara, a protagonista, ali apareceu para se reentregar aos braços do seu amado. Uma bala partira sem aviso e tirou a vida a António e cegou Clara. Emanuel desapareceu mas nunca esqueceu o rosto de Clara. Um dia, numa visita a um museu, Emanuel reviu Clara, claríssima em sua beleza cega. E convidara-a para um filme. Aquele. E amou-a como se ama só uma vez na vida. Como uma espécie de expiação e de pedido de perdão. Até que, perto do fim da película, um beijo seu acendeu os olhos de Clara que passou, enfim, a ver …
Ao lado de Sebastião, estava uma outra Clara, apaixonada pela eternidade do desejo daquele homem, pela sua silenciosa paixão pela actriz do filme, agora sua melhor amiga. Essa Clara era a outra. A mesma. Então, calado, Sebastião chorou, como daquela vez dentro de um carro ermo, ao lado de um amigo de quem já nem sabe o nome, pela memória do outro amigo que matara e pela raiva que então, lenta e finalmente, o abandonava de vez…
No fundo,
há sempre uma rosa púrpura do Cairo a querer saltar da minha jarra de magnólias.
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