terça-feira, 30 de junho de 2009

O vento tem cor?



Feliz, quem sabe, o vento. Sem memória,
beijando-me nos lábios, ele abraça
o meu destino às cegas na paisagem.
É sempre nesse instante que regresso
à poalha do céu onde começa
talvez a maldição, talvez o encanto
de invocar-te em silêncio. Porque, eu sei,
entre palavras morre a cor dos sonhos,
o vão pressentimento de estar vivo.

Feliz talvez o vento e no entanto,
arrasta ainda areia e vagas vozes
na praia ao abandono. A luz da tarde
encobriu-se de névoa, só o mar
ficou perto de mim – agora é simples:
as ondas trazem novo o teu sorriso,
movem o seu abismo nos meus olhos,
mas lágrimas nenhumas vão salvar-me
o corpo, a alma, as cinzas, esta vida.


Fernando Pinto do Amaral, “Praia”

sábado, 27 de junho de 2009

O sorriso mulato de Peter Pan



É de génio...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Afinal o coração dele não tinha cor




O pior é quando o infrene bailarino não aceita a cor que tem e é traído pelo maldito coração que não tinha todas as portas abertas...
Paz, Michael! Junto das auréolas dos anjos...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O coração dela tem três portas



Via Latina, Pátio das Faculdades, 3 de Julho de 2009 - 21h30m

domingo, 21 de junho de 2009

21.06.1962.



A alguém que adivinho como amigo.
E que, José, nasceu nestas paragens.

Já agora


Já agora...estou-me marimbando para os comentários correctos e impolutos que, quem sabe, venham aí. Odeio o Tony e o Cristiano e outros tantos e não cedo ao favor nacional (diria parolice e foleirice nacionais). Gostam ? comam. Não gostam? não estraguem....há sempre quem queira.

Tudo se recicla. Ou quase tudo....

"Passo o dia a sonhar contigo, repete e repete....passo o dia a sonhar contigo"...Tony o Homem que vai acabar com a violência doméstica ....se lhe derem uma chance....e ele estiver para aí virado com umas notas a acenar.

Miséria a 100%


Portugal chegou hoje (?) a um dos mais fundos poços que já conheceu.

A nossa RTP (apadrinhada com todos aqueles apresentadores que podiam ter um pouco mais de vergonha na cara) passou o dia a ejacular uma festa de pic-nic na Bela Vista em Lisboa (onde ocorrem festivais e concertos da moda dos festivais de Verão e da cerveja, se não estou em erro...como tudo hoje em dia...o próprio Campeonato é dea Cerveja e tem gajas boas a abanar bandeiras nos inicios dos jogos...isto sim é um país de Gajos) que nos atingiu a todos na face...bastava ligar a tv..."Passo o dia a sonhar contigo" e outras merdas quejandas fizeram o sábado do calor. Tony Carreira...o português...e depois o cromo CR7 que teve honras de abrir o Telejornal só porque resolveu vir aqui ver a familia.....Isto está tudo abaixo de cão. Olhem...se não morreram....tirem férias...prolongadas....este país é um colosso já dizia a saudosa Ivone Silva, secundada pelo tonto do Camilo de Oliveira...e pronto...batam-me, chamem-me nomes...que merda de país. Sinceramente.....Tony, Cristiano, Morangos, Blá Blá Blá....que lhes dê a todos uma crise de diarreia imparavel.

Mas, por mim, tinha posto uma bomba de neutrões no Bela Vista hoje....hehehehehehehehehehe

sábado, 20 de junho de 2009

na areia a 18/06


"Penso que não sofria com a tua partida. Estava tudo ali como habiutualmente, as árvores, as rosas, a sombra móvel da casa sobre o terraço, a hora e a data, e tu, apesar disso, tu estavas ausente. Não pensava que tivesses de regressar. Em volta do parque rolas sobre os telhados gritavam por companhia. E depois eram sete horas da tarde.


Dise para mim que te teria amado. Pensava que já só me restava de ti uma recordação hesitante, mas não; enganava-me, havia ainda estas praias em volta dos olhos, onde beijar e deitar na areia ainda quente, e esse olhar centrado na morte."


Marguerite Duras, Textos Secretos.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

New York, New York

Boa viagem!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

75 rosas


Jaz imóvel no seu leito
há tanto tempo,
há tantas luas
Luta desenfreadamente
com o último espectro do Tempo -
e não cede, resiste, dá luta, mortifica-se...
Hoje faz mais uma primavera - aquela que está perto dos seus anos de luz e cor.
Para a F., com uma vénia...

sábado, 13 de junho de 2009

Ficção USA de luxo


Não me canso de ver esta família...

Lista de amigos


Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?
(Oswaldo Montenegro)

O império do sol nascente


Garça, graça imensa de ave vestida
no crepúsculo das sombras vadias que o dia sempre deixa, exausto e exangue:
não sei que cores me espantam.
não sei que brumas me afagam:
se as de Agosto, se as de Maio.
Sol nado, cruz de sol e madressilva
arlequins de penas e fados
Nasci?
No dia em que morri...

Chá e Simpatia


sexta-feira, 12 de junho de 2009

O caco e o cântaro


As pessoas de quem gostamos são, na verdade, como cântaros – como cântaros que tivéssemos moldado a partir de um pedaço de barro. Explico melhor: a matéria humana está, como o barro, semeada de impurezas.

Se, a partir desse barro impuro, e sem o cuidado de expurgá-lo do areão que nele há, moldarmos o cântaro que há-de ser o nosso cântaro mais estimado, cujas curvas serão as mais perfeitas, porque desenhadas com as nossas próprias mãos, teremos dificuldade em reconhecer na nossa obra o defeito intrínseco que nela há: a presença das pequenas pedrinhas que são o defeito do barro, como, nas pessoas de que gostamos, as falhas de carácter que têm e as imperfeições naturais à espécie.

Terminada a fabricação do cântaro, deixá-lo-emos a cozer ao sol e logo então as impurezas, dilatadas pelo calor, começarão a minar por dentro o objecto do nosso afecto. O cântaro estalará, abrirá fendas e tornar-se-á imprestável para a função que lhe tínhamos destinado, mas, ainda assim, continuaremos a querê-lo e a estimá-lo, não já pelas suas qualidades objectivas, mas apenas por ser o nosso cântaro, aquele que é construção nossa.

E isto até ao dia em que, por fim, o cântaro se partirá em mil pedaços, revelando-nos aquilo que sempre devia ter sido óbvio: que de um mau barro não se faz um bom cântaro.


Manuel Jorge Marmelo, “Zero à Esquerda”

In http://novelosdesilencio.blogspot.com/

Responder Encaminhar

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Corpus Christi

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Dia da ... Raça?


No mais, Musa, no mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Dhüa austera, apagada e vil tristeza.

OS LUSÍADAS, x,145

Falta-me um filho...

domingo, 7 de junho de 2009

Paul Gauguin - 07.06.1848

Cristo Amarelo.

sábado, 6 de junho de 2009

Ligar os caminhos com fios de Ariadne


"Só depois de ter conhecido a superfície das coisas nos podemos aventurar a procurar o que está por baixo. Mas a superfície das coisas é inesgotável."
Italo Calvino, In Palomar

"... Sabes onde o conceito de labirinto apareceu pela primeira vez?
Respondo que não com a cabeça.
- Foi na antiga Mesopotâmia. Extraíam as entranhas dos animais, e de seres humanos também, possivelmente, e baseavam-se na forma que tinham para prever o futuro. Apreciavam a forma complexa dos intestinos. Daí que se pode dizer que o protótipo dos labirintos reside, numa palavara, nos intestinos. O que significa que o princípio que presidiu à invenção do labirinto reside dentro de ti. E isso está de alguma fora relacionado com a noção de labirinto fora de ti.
- Mais uma metáfora - alvitro eu.
- Exactamente. Uma recíproca metáfora. As coisas no exterior são projecções do que tens dentro de ti, e o que tens dentro de ti é uma projecção do que te rodeia. Por isso, quando entras no labirinto exterior que te cerca, estás ao mesmo tempo a penetrar no teu labirinto interior. Uma odisseia perigosa, sem sombra de dúvida."
Haruki Murakami, in Kafka à beira-mar.


"Conheces o nome que te deram,
não conheces o nome que tens"
Livro das Evidências, citado por José Saramago, in Todos os Nomes.

“Travada a mente na ideologia...”
Caetano Veloso

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Para o César


Para o César especialmente hoje. Ele sabe porquê.
E porque há sempre um, ou mais (graças a Deus) nas nossas vidas.
Gui.

A Piaf


Esta voz que sabia fazer-se canalha e rouca,
ou docemente lírica e sentimental,
ou tumultuosamente gritada para as fúrias santas do “ça ira”,
ou apenas recitar meditativa, entoada, dos sonhos perdidos,
dos amores de uma noite que deixam uma memória gloriosa,
e dos que só deixam, anos seguidos, amargura e um vazio ao lado
nas noites desesperadas da carne saudosa que se não conforma
de não ter tido plenamente a carne que a traiu,
esta voz persiste graciosa e sinistra, depois da morte,
como exactamente a vida que os outros continuam vivendo
ante os olhos que se fazem garganta e palavras
para dizerem não do que sempre viram mas do que adivinham
nesta sombra que se estende luminosa por dentro
das multidões solitárias que teimam em resistir
como melodias valsando suburbanas
nas vielas do amor
e do mundo.
Quem tinha assim a morte na sua voz
e na vida. quem como ela perdeu
toda a alegria e toda a esperança
é que pode cantar com esta ciência
do desespero de ser-se um ser humano
entre os humanos que o são tão pouco.


6 Outubro 64


Jorge de Sena, Arte de Música

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Ser Tigre


Arménio Vieira, Prémio Camões,- 2009



O tigre ignora a liberdade do salto

é como se uma mola o compelisse a pular.

Entre o cio e a cópula

o tigre não ama.
Ele busca a fêmea

como quem procura comida.
Sem tempo na alma

é no presente que o tigre existe.
Nenhuma voz lhe fala da morte.

O tigre, já velho, dorme e passa.
Ele é esquivo,

não há mãos que o tomem.
Não soa, porque não respira.

É menos que embrião

abaixo do ovo, infra-sémen.
Não tem forma, é

quase nada, parece morto.
Porém existe, por isso espera.

Epopeia, canção de amor,

epigrama, ode moderna, epitáfio,
Ele será

quando for tempo disso.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ninguém como nós conhece o sol


Sebastião Alba nasceu em Braga,em 1940.
Após viajar para Moçambique, passou a conviver com um importante grupo de escritores e intelectuais.
Foi jornalista, guerrilheiro político, e teve uma vida bastante agitada e cheia de desilusões, com passagens por prisões e hospitais psiquiátricos.
Alba passou o tempo a viver como andarilho, acabando por morar na rua e morrendo atropelado por um motorista em Braga, sua terra natal.


"A Poesia foi, para mim, corso: de quando em vez, fazia abordagens. Claro que trago comigo, como qualquer pirata que se preza, o mapa desse tesouro, onde ninguém o encontrará: na pala do olho direito — com o esquerdo, não sei porquê, vi sempre melhor."



Ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos.