sexta-feira, 31 de julho de 2009

Quixote e Dulcineia


Herr Alleswisser fez um castelo de livros e, sem mais delongas, instalou-se nele; ponta a ponta, foi lendo a sua casa e, lendo, sentia-se feliz.
Um dia, de tanto ler paredes e pilares, o castelo ruiu; e Herr Alleswisser achou-se soterrado sob a sua cultura e viu-se nu, com fome, com sede, exposto à bruta crueza do Mundo.
Hoje, Herr Alleswisser é um sem abrigo e vive debaixo da ponte Erscheinigungsbrücker, onde passam os carros que seguem para Berlim Oriental.
Só quando confrontado com a vertente prática das ruas que apenas conhecia como ideia nesses livros que lia é que Herr Alleswisser compreendeu que a Literatura, só por si, não constitui a Cultura.

Que ser culto, implica viver na mesma proporção em que se teoriza, sob pena de o sabor de uma carne ou de um peixe não ser a carne ou a peixe mas apenas uma sensação da saliva que surge à boca ao pensar-se uma iguaria abstracta que não é mais que metáfora.
Ao descobrir isso, Herr Alleswisser obteve o impensável: perdeu tragicamente o seu castelo, para encontrar na condição de sem-abrigo aquela completude que buscava.

Dulcineia, meus Quijotes, está ao virar da esquina, não ao virar da página!



Publicada por Miguel Joao Ferreira in http://persona08.blogspot.com/



Boas férias e um grande MAR...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

uma gaivota de Julho



Para o G.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Canção de fazer caminho





Queres vir à minha barca?
A transbordar de violetas!
Iremos longe sem nos pesar
aquilo que aqui deixamos.

Sem saudades iremos longe
— seremos duas, seremos três.
Podeis vir, vinde à nossa barca,
a vela alba, o céu aberto.

Todos os braços terão seu remo
— seremos quatro, seremos cinco! —
e os nossos olhos, astros dispersos
os seus limites esquecerão.

Março conduz-nos, a ventania,
as loucas nuvens do coração.
Seremos vinte, ou já quarenta,
a lua será nosso estandarte.

Bruxas de ontem, bruxas do dia,
no alto mar nos acharemos.
Em tudo a vida brotará
como uma dança vegetal.

E sob a pele de onda salgada
seremos quinhentas, seremos mil.
Até que a conta perderemos.
Juntas faremos nossa a noite.

Maria Mercé Marçal (Barcelona)
Trad. de Egito Gonçalves
Quinze poetas catalães, Ed. Limiar, Porto, 1994.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Para Ti.


"Talvez as necessidades emocionais mais profundas sejam os tijolos e o cimento com que construímos as nossas ilusões."

Richard Zimler, A Sétima Porta

domingo, 26 de julho de 2009

17 anos com a C.

Sem dizer uma palavra
Apenas dedicando-te o pássaro louco de fogo que me afaga a alma e a voz
E que me inunda a pele...


Pela pessoa que és, pela ave que me faz voar mesmo sem asas..


Eu não sei onde ir
Para cair em teu caminho
Se é na cidade onde eu nasci
Ou pertinho de mim
Eu não consigo decifrar
O que parece tua voz
E eu quis escutá-la
Mais de uma vez
Um dia ou outro
Mas quando tu estiveres aqui
Este dia ou outro
Eu saberei que és tu
Entre tantas outras
Mesmo sem dizer uma palavra
Sem dizer uma palavra
Eu não sei o que tocar
Para cair em teus dedos
Melhor ainda, pode acontecer colocarmos
Nossas mãos no mesmo lugar
Eu não sei onde buscar
Mas eu compreendo, às vezes
que eu teria que observar diante de mim
Eu saberei que és tu
Entre tantas outras
Mesmo sem dizer uma palavra
Sem dizer uma palavra


Do P.

Pré-campanha




NA CAPITAL

"Quem manda aqui?"
perguntei
Responderam:
"O povo, é claro"

Eu disse:
"É claro, o povo,
mas quem
manda de facto?"



Erich Fried
(Áustria, 1921-1988)

25

CANÇÃO


Canto o que vem comigo desde antes
e são modulações do mesmo grito

Como os grilos que ora tracejam a noite
com seu canto simplesmente folha transformado em vida.

Hoje, que hei-de dizer-te?
Que esteve claro o dia e turva a vista

Que nada retive de seu esplendor
já outonal, senão um ritmo

Este que faz as mãos acariciar as palavras
como se fossem de vidro.


Luísa Mendes Furia (Brasil, 1961)

Como um rio que corre..até nunca..até sempre.


Hoje estive, onde deveria ter estado e não estive, há 17 anos atrás.

Eles foram o melhor remédio para mim.

Rejuvenesci e voltei a crescer em algumas horas que passamos.

Um bálsamo para a alma....eles sabem e eu sei.

Obrigado.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Bastonadas


"Só hoje estão agendados, em todos os tribunais judiciais de primeira instância, 527 julgamentos e diligências com intervenção de juízes, o que dá uma média de quase 2 por tribunal. Desta forma, enquanto o Sr. Bastonário da Ordem dos Advogados se diverte nas festas e beberetes das inaugurações, e dá as suas entrevistas maldosas para dizer que está tudo em casa a gozar privilégios, há centenas de juízes, procuradores, funcionários judiciais e advogados que estão a trabalhar para cumprir o melhor possível a sua função..."


António Martins, Juiz Desembargador



E eu que há cinco dias que não faço mais nada do que julgar, ouvir, despachar, sozinho num tribunal de outro mundo...

Sr. Bastonário: e não há ninguém que o extermine?!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

bABY bOOM



Na minha despedida do TFM...

sábado, 18 de julho de 2009

Um violino na minha tarde de madrigais



É privilégio de quem ama
ouvir um violino até na lama...

(NB- volto ao filme "Ladies in lavender" e a esta música fenomenal de Nigel Hess, pela voz do violino de Joshua Bell)

Vide Cor Meum



Florença entardece enquanto o coração dos amantes parece ter fome de bruma e de partilha.


(NB - o fime é HANNIBAL e a cena é de cortar a respiração, ao som de VIDE COR MEUM, composta para o filme, a partir de libreto de Dante).

Isto é para ti, P., que me fizeste redescobrir esta cena.

Eros (no Antigo Testamento)



A Biblia também é plena de metáforas sensuais.
Vejam este excerto do filme "Keeping Mum" (com a minha imprescindível Maggie Smith), com o nosso Mr. Bean, com uma voz de outro mundo, a ler a Canção de Salomão, olhando a Kristin Scott-Thomas.
Uma pérola...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Nos teus braços


Balancé



VIvo a mesma história no meio dos outros,
essas almas que nem me olham, apenas me tocam,
de mansinho, de perto ou em veludo.
Morrem tias idosas
o pai continua sem falar
ela continua sem acordar
E o mundo roda à minha volta
impiedoso, solene, cruel, sereno, malévolo, doce e amergo ao mesmo tempo
Estou cheio de pais e de filhos
de sonos interrompidos
de cegonhas míopes e insensatas
Estou farto de névoas, de calor húmido e de sol às carradas
Estou pleno de ar fátuo, de fogo preso, de irmãos e irmãs
Quero mergulhar na onda mais revolta da lagoa
aquela que me traz o cheiro do espanto,
do riso e do pranto
da mágoa e da alegria disfarçada em tons de escarlate
Estou à beira de um ataque de flores
sujas, estarrecidas, cinzentas.
O Papa caiu neste Estio
E na Indonésia choram-se os mortos que não estavam vivos
Harry Potter não se cala,
Merlin impacienta-se
E o vírus está quase a apanhar-me...
É, no fundo, a mesma história de sempre.
Até que...

No dia em que a Leonor faz anos


As horas estão mais graciosas esta manhã
A infanta apagou a vela mais pequena que a casa tinha
E o melro cantou com o canto do rouxinol
As águas correram felizes pela greta dos junquilhos e da madressilva
E a vida pareceu mais leve do que nunca.
E a Leonor riu ufana, olhando para o sorriso da Mãe João e para a paciência do Pai Pedro...
E nos, teus padrinhos, estivémos lá!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

SER

Não tenho pressa. Não tenho dever. Não conheço ninguém. E nada espero.

A star is born


Eu sabia que eras importante ...
Mas todas as minhas expectativas foram excedidas.
Nem imaginava ... !
Depois de abrires o link abaixo, escreve o teu primeiro e último nome. http://www.monfestival.fr/

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Gregory



Escreveu a sua história
e partiu para o sétimo céu
onde não há anjos nem auréolas
nem pratas, nem ouro solene, nem nuvens de algodão.
Morreu aos 23.
Assim, como uma espécie de perdão.

Dedico esta canção à F. (Paris)

Metade


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.


(Oswaldo Montenegro)

E por falar em tulipas...


CANÇÃO DE UMA DAMA NA SOMBRA


Quando vem a taciturna e poda as tulipas:
Quem sai ganhando?
Quem perde?
Quem aparece na janela?
Quem diz primeiro o nome dela?
É alguém que carrega meus cabelos.
Carrega-os como quem carrega mortos nos braços.
Carrega-os como o céu carregou meus cabelos no ano em
[que amei.
Carrega-os assim por vaidade.

E ganha.
E não perde.
E não aparece na janela.
E não diz o nome dela.
É alguém que tem meus olhos.
Tem-nos desde quando portas se fecham.
Carrega-os no dedo, como anéis.
Carrega-os como cacos de desejo e safira:
era já meu irmão no outono;
conta já os dias e noites.

E ganha.

E não perde.
E não aparece na janela.
E diz por último o nome dela.
É alguém que tem o que eu disse.
Carrega-o debaixo do braço como um embrulho.
Carrega-o como o relógio a sua pior hora.
Carrega-o de limiar a limiar, não o joga fora.

E não ganha.
E perde.
E aparece na janela.
E diz primeiro o nome dela.

E é podado com as tulipas.


Paul Celan

(tradução: Claudia Cavalcanti )

E de volta à chuva



Porque sou sacerdote da chuva...
mesmo em tempo de Estio!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Concerto em Água Maior (sonata em 12 andamentos)


O relógio do tempo não tem sempre as horas certas.

A chuva de Agosto tem ciúmes do Julho húmido e quente.

A água pede sempre perdão por tamanho descalabro em hora errada e esconde-se, envergonhada, do solstício de Junho, em canto dolente.

Pois Maio foi mau conselheiro, Abril esteve cheio de águas mil,

E Março foi sorrateiro, irmão do breve Fevereiro,

a chuva soprou, enfim, ao ouvido do frio Janeiro, pedindo tréguas, sol de permeio, milagres de sombra e cheiro...

E Dezembro lá ficou parado no tempo, à espera dos outros natais,

daquele Novembro sentido e outonal, vizinho das trevas,

e dos Outubros indiscretos que não param de sondar Setembro em busca de redenções fatais...

E, de novo, em Agosto, a chuva não parou de cair,

enquanto a ociosa cigarra incomodou a cinzenta formiga,

amiga de sua amiga,

adversárias da mesma liga.

Juntas,

perto do véu pintado

da cambraia dos novos tempos,

as bacantes rumaram

ao relógio de sol,

em busca de melhores horas,

Caia sol ou faça chuva...

sábado, 11 de julho de 2009

A Portuguesia.



Nem sempre a voz inesquecível da portentosa actriz Fernanda Montenegro se ouve como seria desejável, mas é sempre quente ser agarrado pelas pontas da emoção de pertencer a uma língua e uma humanidade.

A propósito de um festival de poesia lusófona que nestes dias tem lugar aqui no Norte, numa cidade que me é particularmente próxima, porque lá iniciei a minha carreira, Vila Nova de Famalicão.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Estarrecido

O corpo do cantor Michael Jackson, que não foi avistado pela mídia desde o fim de seu velório público na terça-feira (7), teria voltado ao cemitério de Forest Lawns, diz o site da rede de TV norte-americana ABC.

A ABC diz que uma "fonte próxima da família" que não quer se identificar garante que o corpo do cantor, dentro de um caixão de ouro, permanece sem ser enterrado no cemitério de onde saiu o cortejo para o funeral público.

O site ainda afirma que o corpo pode ser enterrado em outro lugar - os irmãos e a mãe de Jackson, Katherine, discutem ainda se o cantor não deveria ser enterrado em Neverland, o misto de rancho e parque de diversões criado por Jackson, onde ele residiu entre 1988 e 2003.

Michael Jackson morreu devido a um ataque cardíaco sofrido em casa, no dia 25 de junho. A morte está sendo investigada por agentes do DEA, órgão de combate às drogas dos EUA, devido a uma suspeita do envolvimento de uso de remédios controlados no óbito.

Cristiano Ronaldo é apresentado diante do Santiago Bernabéu com público de dia de jogo
Se na semana passada o mundo ficou impressionado com os mais de 50 mil torcedores na apresentação de Kaká no Real Madrid, nesta segunda-feira (6), mais um recorde foi batido pelo clube merengue. Cerca de 85 mil pessoas lotaram o Estádio Santiago Bernabéu para ver pela primeira vez Cristiano Ronaldo vestindo a camisa do clube merengue.
Contratado por € 94 milhões (aproximadamente R$ 256 milhões), o ‘gajo’ assinou contrato de seis anos (especula-se que ganhará cerca de R$ 27 milhões por temporada) e recebeu o mesmo número que já pertenceu ao ídolo Di Stéfano, que aos 83 anos esteve presente na festa, e ao xará Ronaldo.
A torcida, que começou a entrar no Bernabéu por volta das 19 horas locais (14 horas, de Brasília) quando os portões foram abertos, não cansou de aplaudir o ex-jogador do Manchester United e Sporting. O único setor não ocupado totalmente era o que ficava justamente atrás do palco de onde Cristiano saudou a todos.
Depois de ser apresentado pelo presente Floretino Pérez, Cristiano Ronaldo, que durante o discurso do presidente cochichou algo com Eusébio - ex-jogador da seleção portuguesa que também marcou presença no evento -, falou emocionado.
“Estou muito feliz por estar aqui. Conseguir cumprir meu sonho de criança que era jogar no Real Madrid e não esperava que o estádio estivesse cheio assim. Não consigo acreditar. Impressionante. Muito obrigado”, agradeceu Cristiano Ronaldo, que, em seguida, contou até três e disse: “Vamos Madrid!”



E assim vamos.....

Estarrecido com as prioridades do mundo e aquelas, como estas, que nos impingem, à conta de não pensarmos noutras coisas.

Tristeza e desolação é o mínimo que todo este circo obsceno pode causar.

Não basta a vida real, ainda nos impingem estas coisas inefáveis a toda a hora, em todos os canais generalistas, mais os da Cabo derivados dos generalistas, que nos obriga a desligar a tv. Culpa deles ? dos próprios? sem dúvida...mas culpa, essencialmente, dos média, dos medíocres que hoje se intitulam jornalistas com estágios de meses em qualquer chafarrica e cursos de bolso, e do people...que ADORA circo e nunca se acha enganado....a não ser quando os bancos fecham, as contas são congeladas e o Estado não nacionaliza o banco...

Raios partam todos. Se tivessem que viver...

Nojo....

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Excessos



Um médico estava a fazer a sua caminhada matinal quando viu esta velhinha sentada no degrau da sua varanda fumando um cigarro. Curioso, ele foi até ela e perguntou:
"Não pude deixar de notar como a senhora parece feliz! Qual é o seu segredo?"
"Eu fumo 20 cigarros por dia" respondeu. "Antes de ir pra cama eu fumo um grande charro, bebo uma garrafa de Jack Daniels por semana e só como porcarias. No fim de semana, tomo pílulas, faço sexo e não faço nenhum exercício fisico".

O médico espantado: "Isso é extraordinário! Quantos anos a senhora tem?"
"Trinta e quatro
" respondeu.

domingo, 5 de julho de 2009

Não culpes a lua



Não culpes a lua, não.
A culpa é sempre do sol.
Que a claridade, em si, tem sempre razão, mesmo indefesa.

Para que conste...

sábado, 4 de julho de 2009

Uma ponte na via latina

Concerto perfeito.
Desde o fado, ao tango, do folclore à reinvenção - total - da música...
Não tenho palavras para descrever o estado puro da diva
Quanta cor teve este Julho...

Vamos olhando o mundo











Tudo vai desmoronando, e tudo se vai construindo...metade de nós está a passar e outra metade a começar.




Venha Agosto para aquecer os espiritos e os corpos.




Estou impregnado de mortos, velórios, choros e angustias.




Vivamos....(mesmo a ter que aturar o Cristiano, o Tony, O Malato, o Goucha, A Furtado, a Leite de Castro, e quejandos e quejandas..)...até aturo a TVI ...mas vivamos.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Dueto (moderato cantabile)


Não se olhavam.

Na partilhada penumbra ambos estavam sérios e silenciosos.

Ele tinha-lhe pegado na mão esquerda e tirava-lhe e punha-lhe o anel de marfim e o anel de prata.

A seguir pegou-lhe na mão direita e tirou-lhe e pôs-lhe os dois anéis de prata e o anel de ouro com pedras duras.
Ela estendia alternadamente as mãos.
Aquilo durou algum tempo.

Foram entrelaçando os dedos e juntando as palmas das mãos.
Procediam com lenta delicadeza, como se temessem enganar-se.
Não sabiam que era necessário aquele jogo para que determinada coisa acontecesse, no futuro, em determinada região.



jorge luís borges - história da noite - obras completas III - círculo de leitores


(roubado de um barco de flores)


Fala com ela...


Giselle descansou os olhos e os seus sapatos vermelhos
E rodopiou uma última vez...
ONDE ANDARÁ AGORA A BELEZA DO MUNDO?