segunda-feira, 13 de julho de 2009

Concerto em Água Maior (sonata em 12 andamentos)


O relógio do tempo não tem sempre as horas certas.

A chuva de Agosto tem ciúmes do Julho húmido e quente.

A água pede sempre perdão por tamanho descalabro em hora errada e esconde-se, envergonhada, do solstício de Junho, em canto dolente.

Pois Maio foi mau conselheiro, Abril esteve cheio de águas mil,

E Março foi sorrateiro, irmão do breve Fevereiro,

a chuva soprou, enfim, ao ouvido do frio Janeiro, pedindo tréguas, sol de permeio, milagres de sombra e cheiro...

E Dezembro lá ficou parado no tempo, à espera dos outros natais,

daquele Novembro sentido e outonal, vizinho das trevas,

e dos Outubros indiscretos que não param de sondar Setembro em busca de redenções fatais...

E, de novo, em Agosto, a chuva não parou de cair,

enquanto a ociosa cigarra incomodou a cinzenta formiga,

amiga de sua amiga,

adversárias da mesma liga.

Juntas,

perto do véu pintado

da cambraia dos novos tempos,

as bacantes rumaram

ao relógio de sol,

em busca de melhores horas,

Caia sol ou faça chuva...

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei deste calendário!
Luzia