quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O poema perdido


Estou desolado.
Arrancaram-me um poema.
Directamente da página do livro.

Decidi colocar um anúncio no jornal.
Rezava assim:

Desapareceu um poema da gaveta do seu autor.
Eis os seus sinais particulares:

"Bates as mornas palavras com o coração
E regas o sonho com um quente/frio de poesia
Serves uma pitada de salgadas rimas
E mastigas o petisco com o licor da alegria

Como sobremesa, um romance de erva-doce
Acompanhando o glacé da tinta de máquina
Levantas a mesa, sujando as muitas folhas rasgadas
E ligas o som onde alguém canta em surdina

Recebes os amigos já gastos de tanta vez
E voltas a servir um prato de estrofes
Acendes a lareira, em esquentado Agosto
Recolhendo as fagulhas que guardas na gaveta

Acendes um encantado paiol de néctar
Que já serviu de mel a mil e uma sensações
Vais à duna da praia - aquela - escutar a espuma
Levando notícias dos operários da palavra

Voltas, enfim, para o teu celebrado abrigo
Pegas nas fagulhas já frias de tanto esperar
E, aquecendo-as com as mãos e com o teu bafo,
Crias, em segundos instantes, um novo ser"

Ofereço um poema a quem o encontrar.

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