Em 2013, depois uma inolvidável peregrinação à TERRA SANTA, deixei isto aqui escrito:
«Fui ver um Homem Bom.
Com a certeza de que viria de lá ainda mais crente.
Como se fosse possível!
Mas fui, embalado pela doce notícia de que em Jerusalém sempre entram mais almas, umas desencontradas, outras em busca de uma bússola.
E quando pisei as águas da Galileia, numa barca náufraga de esperança, quando molhei os olhos no Gólgota de todos nós, senti-me mais eu, mais junto da Divindade, aquela que se fez Homem por todos nós, pelas nossas imperfeições, pelas nossas iniquidades.
E ouvi de novo as bem-aventuranças, vi o Cristo transfigurado no Monte Tabor onde a vista se perdeu de vista, ouvi os sussurros dos pastores em busca da Estrela da Natividade, o espanto de Isabel, a prima infértil, as novidades do filho João Baptista, o eco de Emaús, o reconhecimento de um Cristo ressuscitado na palma das nossas mãos de peregrinos.
E ouvi gritar, mais uma vez, «Abba, porque me abandonaste?», como se fosse um canto de hoje e uma súplica de esperanto, calcei as pedras das tentações, os musgos de Cafarnaum, as tulipas de Nazaré, sorri com o sorriso do Pai José, paciente e solene, molhei as pontas dos dedos no Jordão, deitei-me no morto mar, como se fosse uma entidade viva.
E na cidade velha, vi - ufanas - estações de uma Via Sacra, túmulos e sepulcros, marias e martas, grutas de traição, Pai nosso que estais no céu...
E quando entrei em Jerusalém, pensei serenamente nas marcas do Crucificado e reti as lágrimas que trazia guardadas do canto lusitano, à espera de depósito.
Por isso, por causa disso, dessa hora sexta da nossa existência, voltei serenado.
Até ao próximo calvário de todos os dias...
Até que Ele me volte a dizer palavras sábias...
(Paulo Guerra - 24.8.2013)
(um bj especial de imensa gratidão pela FORÇA e BOA DISPOSIÇÃO que a Leninha deu a todo o grupo de peregrinos)»
*
Hoje regressei a casa, depois de ter voado para um continente improvável - América do Sul.
Fui ao Brasil, Argentina e Paraguai, seguindo as pegadas dos bravos sacerdotes jesuítas que tudo fizeram pela evangelização e dignificação dos indígenas e proliferação da mensagem Daquele que tudo move.
Fomos levados pela mão organizadora de um menina cheia de luz, a mesma Leninha Trigueiros, que continua a encantar com a sua Helena de Tróia, Viagens e História.
E pelo som cativante da palavra do Padre Carlos Carneiro que nos ensinou os cantos dos seus antecessores, discípulos de Cristo e que nunca baixaram os braços perante tanta inveja do poder político de então...
Vimos os trilhos da Fé.
Celebramos as Eucaristias nos sítios certos, ao relento, a céu aberto, à sombra das antigas Missões, entre o som dos pássaros nativos que perpassam os tempos (ainda se ouviam os violinos e os oboés feitos pelos índios).
Rondamos os cantos do Iguaçú, essas águas felizes que nos pacificaram.
O veludo dos Guarani ficou por aqui.
Para nunca mais se calar.
O grupo de peregrinos deixou marcas, quase na sua totalidade - obrigado aos meus novos amigos Carlos Mimoso, Teresa Mendes, Ana Escada, Paula Ramos, João Pedro Menéres, Helena Sacadura Botte e Fernanda Marta.
Grato fico também aos companheiros Rute, Lurdes, Manuel, Rui, Sara, Isabel e Rosário.
Soltamos as asas no Corcovado, seguimos os olhos pela Avenida Paulista, revivemos o espírito e o corpo das Missões Jesuíticas do século XVI e XVII no país dos assombros e da Avé Maria Guarani (estas Reduções Jesuíticas não eram de conveniência mas de fascínio).
O sistema missionário buscou introduzir o cristianismo e um modo de vida europeizado, integrando, porém, vários dos valores culturais dos próprios índios, e estava baseado no respeito pela sua pessoa e pelas suas tradições grupais, até onde estas não entrassem em conflito directo com os conceitos básicos na nova fé e da justiça.
Como diria o nosso guia, é possível viver o Evangelho, "os que não eram «nada» aqui foram excelentes".
E o grito do açor ecoa alto na nossa alma, ainda a tempo de nos salvar das águas infelizes ao encontro das pedras que cantam...
*
Leninha, até já...
https://youtu.be/au2VocS5RtU
«Fui ver um Homem Bom.
Com a certeza de que viria de lá ainda mais crente.
Como se fosse possível!
Mas fui, embalado pela doce notícia de que em Jerusalém sempre entram mais almas, umas desencontradas, outras em busca de uma bússola.
E quando pisei as águas da Galileia, numa barca náufraga de esperança, quando molhei os olhos no Gólgota de todos nós, senti-me mais eu, mais junto da Divindade, aquela que se fez Homem por todos nós, pelas nossas imperfeições, pelas nossas iniquidades.
E ouvi de novo as bem-aventuranças, vi o Cristo transfigurado no Monte Tabor onde a vista se perdeu de vista, ouvi os sussurros dos pastores em busca da Estrela da Natividade, o espanto de Isabel, a prima infértil, as novidades do filho João Baptista, o eco de Emaús, o reconhecimento de um Cristo ressuscitado na palma das nossas mãos de peregrinos.
E ouvi gritar, mais uma vez, «Abba, porque me abandonaste?», como se fosse um canto de hoje e uma súplica de esperanto, calcei as pedras das tentações, os musgos de Cafarnaum, as tulipas de Nazaré, sorri com o sorriso do Pai José, paciente e solene, molhei as pontas dos dedos no Jordão, deitei-me no morto mar, como se fosse uma entidade viva.
E na cidade velha, vi - ufanas - estações de uma Via Sacra, túmulos e sepulcros, marias e martas, grutas de traição, Pai nosso que estais no céu...
E quando entrei em Jerusalém, pensei serenamente nas marcas do Crucificado e reti as lágrimas que trazia guardadas do canto lusitano, à espera de depósito.
Por isso, por causa disso, dessa hora sexta da nossa existência, voltei serenado.
Até ao próximo calvário de todos os dias...
Até que Ele me volte a dizer palavras sábias...
(Paulo Guerra - 24.8.2013)
(um bj especial de imensa gratidão pela FORÇA e BOA DISPOSIÇÃO que a Leninha deu a todo o grupo de peregrinos)»
*
Hoje regressei a casa, depois de ter voado para um continente improvável - América do Sul.
Fui ao Brasil, Argentina e Paraguai, seguindo as pegadas dos bravos sacerdotes jesuítas que tudo fizeram pela evangelização e dignificação dos indígenas e proliferação da mensagem Daquele que tudo move.
Fomos levados pela mão organizadora de um menina cheia de luz, a mesma Leninha Trigueiros, que continua a encantar com a sua Helena de Tróia, Viagens e História.
E pelo som cativante da palavra do Padre Carlos Carneiro que nos ensinou os cantos dos seus antecessores, discípulos de Cristo e que nunca baixaram os braços perante tanta inveja do poder político de então...
Vimos os trilhos da Fé.
Celebramos as Eucaristias nos sítios certos, ao relento, a céu aberto, à sombra das antigas Missões, entre o som dos pássaros nativos que perpassam os tempos (ainda se ouviam os violinos e os oboés feitos pelos índios).
Rondamos os cantos do Iguaçú, essas águas felizes que nos pacificaram.
O veludo dos Guarani ficou por aqui.
Para nunca mais se calar.
O grupo de peregrinos deixou marcas, quase na sua totalidade - obrigado aos meus novos amigos Carlos Mimoso, Teresa Mendes, Ana Escada, Paula Ramos, João Pedro Menéres, Helena Sacadura Botte e Fernanda Marta.
Grato fico também aos companheiros Rute, Lurdes, Manuel, Rui, Sara, Isabel e Rosário.
Soltamos as asas no Corcovado, seguimos os olhos pela Avenida Paulista, revivemos o espírito e o corpo das Missões Jesuíticas do século XVI e XVII no país dos assombros e da Avé Maria Guarani (estas Reduções Jesuíticas não eram de conveniência mas de fascínio).
O sistema missionário buscou introduzir o cristianismo e um modo de vida europeizado, integrando, porém, vários dos valores culturais dos próprios índios, e estava baseado no respeito pela sua pessoa e pelas suas tradições grupais, até onde estas não entrassem em conflito directo com os conceitos básicos na nova fé e da justiça.
Como diria o nosso guia, é possível viver o Evangelho, "os que não eram «nada» aqui foram excelentes".
E o grito do açor ecoa alto na nossa alma, ainda a tempo de nos salvar das águas infelizes ao encontro das pedras que cantam...
*
Leninha, até já...
https://youtu.be/au2VocS5RtU