segunda-feira, 24 de março de 2008

Alice, Flor de Malvaísco


Alice
Era uma mulher indómita.
Deambulava de dia ou de noite por Jovim.
Andava sem destino firmado ou definido.
Comia quando os pobres se cansavam de a ver beber.
Vestia a roupa sem olhar o lado ou o tempo.
Saía igual com a virtude ou com a perversidade.
Encontrava-se muitas vezes com destinos trágicos
e engravidava frequentemente deles.
Sofria dores nunca contadas
ouvidas em gritos que rasgavam noites de bréu.
Perdera tudo.
Os pais que a tinham semeado.
O homem que a fizera flor.
Os filhos que gerara e não criava.
Desapareceu ela e a bebida que calava debaixo da saia
num dia frio de Dezembro.
Não a procuraram.
Os cães encontraram-na, num dia de Primavera
nos limites de Jovim
no fundo de um poço
rodeado de flores de malvaísco.


9 comentários:

R. disse...

Vocês... pelo amor de Deus... escrevam um livro...
Porque não tenho assim nada mais à altura para dizer nesta hora... LINDO! PARABÉNS!
É que escrevem bem... citam bem... seleccionam bem... fazem tudo bem... Sou Vossa fã!

Anónimo disse...

Estes absolutos genuínos que nos violentam e nos envergonham, mexendo com o nosso pudor de humanos (por vezes frágeis e fúteis).
Bonito.
Apoio o alvitre do livro.
Bj.
C

Anónimo disse...

Alice saiu hoje do poço e sentiu-se a mais pura e genuína das mulheres...Quem disse que era tarde?!

César Paulo Salema disse...

Alice... já não mora aqui!

Passiflora Maré disse...

Anónima das 23:05, que eu penso saber quem és, sobre a saída, possível,da Alice do poço, podemos a duas ter uma conversa filosófica.
Quanto aos demais obrigado e Bj.
Beijos para a C. em quem descubro novas cumplicidades.

Passiflora Maré disse...

C. fui a primiera que te acantonei, porque assim me pareceu justo na altura, uma vez que muitas vezes, nos trocaste, naqueles dias.
Mas hoje nasci com uns olhos mais tolerantes e compreensívos e pareceu-me bem dar-te um nome com cerca de 20 anos de atraso. Se concordares poderás passar a chamar-te Eva Negra.
Antes de responderes pensa em todas as implicações do nome, como eu pensei e diz-nos se o aceitas. Os outros do 11 de nada sabem ainda.
Mas com eles, agora, não me preocupo, só contigo.

Anónimo disse...

P.,
O baptismo, por mais profano que teimem em fazê-lo( o homem moderno tem horror ao vácuo), tem indelevelmente o esplendor do sagrado. E o sagrado, quando nos toca, contempla-se e aceita-se.Como tal aceito,com gáudio pelos encómios da Eva e com tolerâcia para os encolhos da Negra.
Bj.
C.

Passiflora Maré disse...

Obrigada. Falarei com os outros. O Mestre ou mesmo eu receber-te-emos condignamente.

armando s. sousa disse...

Tenho que dizer, que está absolutamente bem escrito este post. Aliás tu sempre escrevestes muitíssimo bem.

O césar paulo salema, diz que "Alice... já não mora aqui!", eu diria, que Alice nunca morou aqui.
Mas "who's cares?"

Um beijo passiflora maré, esqueci-me de te perguntar onde foste buscar o nome, tão bem conseguido.