sábado, 8 de março de 2008

Evas


(...) Mas para vos contar a minha história, têm apenas que imaginar a figura de uma menina num quarto com uma caneta na mão. Ela só tinha que mover aquela caneta da esquerda para a direita (...)
Enquanto eu estava a escrever, descobri que se fosse escrever livros, teria de travar uma batalha com um certo fantasma. E o fantasma era uma mulher a que chamarei "the angel of the house".
Era ela que costumava aparecer entre mim e o papel quando eu estava a escrever. Era ela que me incomodava e roubava o meu tempo e atormentava-me, até que acabei por matá-la (...)
Ela era imensamente sensível e encantadora. Dominava todas as difíceis artes da vida familiar. Sacrificava-se diariamente. Se era galinha, ela ficava com a pata, se havia uma corrente de ar, ficava ela nesse lugar - preferia concordar sempre com as ideias e desejos dos outros.
(...)
E quando vim a escrever, encontrei-me com ela logo nas primeiras palavras. A sombra das suas asas caiu sobre a página; eu ouvi no quarto o roçar das suas saias...
(...)
As mulheres devem encantar, dizia-me ela. Devem conciliar, devem mentir se for preciso para que se saiam bem. Todas as vezes que eu sentia a sua sombra da asa ou a luz da sua aura radiante sobre a página, eu pegava no tinteiro da tinta e atirava sobre ela. Ela custou imenso a morrer...
(...)
Já libertas desse fantasma, vocês ganharam o vosso próprio espaço na casa até agora exclusivamente possuída por homens. Vocês são capazes de pagar as despesas mensais. Vocês já estão a ganhar as suas 500 libras por ano. Mas essa liberdade é apenas o começo - o quarto já é vosso, mas ainda está vazio. Ele tem de ser mobilado. Tem de ser decorado, tem de ser repartido. Como irão vocês mobilá-lo? Como irão decorá-lo? Com quem vão dividi-lo, e em que termos?
(...)
Neste dia das Evas (como se necessário fosse um dia para as louvar), deixo-vos este eloquente trecho de uma conferência realizada por Virginia Woolf na "National Society for Womens Service", corria o dia 21 de Janeiro de 1931.
Direi apenas que a Mulher é, inequivocamente, o melhor ser intermediário entre o homem e a Humanidade.

A magnólia celebra este dia com uma nova flor em forma de maré que se aproxima e com uma canção de Katie Melua (uma das melhores songwriters da actualidade, a par de Suzanne Vega, Vanessa Carlton, Tori Amos, Lene Marlin e KT Tunstall) que poderão ouvir no endereço abaixo indicado - trata-se do magnífico "If you were a sailboat" (album "PICTURES" - 2007).


Ave, Eva!

1 comentário:

Anónimo disse...

Liiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiindo!