sexta-feira, 25 de abril de 2008

O Tempo e o Vento



Vento de Abril: Porque nos atormentas cinzento e velho tempo?
Porque nos escondes com a escuridão? Porque nos amordaças a boca e o pensamento?

Tempo Velho: Não te conheço. Não falo com desconhecidos. O vento que eu fui já morreu. O tempo não tem medo, cor, dança ou poesia…

Vento de Abril: Deixa-te embalar suavemente na minha agitação primaveril e vais ver que o meu vento vai fazer de ti um tempo novo.

Tempo Velho: Não. Não quero perder-me de mim mesmo. Nem estar décadas à procura, à espera do que serás.

Vento de Abril. Não sabes o que dizes. Serei sempre novo. Os deuses estão comigo. As flores desabrocharam. Os homens ensaiam canções. A poesia está a sair a rua.

Tempo Velho: Não conheces os homens, nem o seu vazio. Não conheces o povo inculto. Nem o poder ambicioso, conspirativo e sem escrúpulos.

Vento de Abril: Com tempo resolverei essas contingências. Agora, Lisboa já cheira a cravos e laranjas maduras. A esperança voa nas asas das gaivotas. As marés rebentam as lágrimas dos exilados. As flores já cantam a liberdade.

Tempo Velho: Já oiço o povo em algazarra. Aproxima-se o teu tempo. Neste momento deixaste de ser Vento e passaste a ser o Tempo Novo.

Tempo Novo: Retira-te.

Tempo Velho: Assim seja. Um dia falaremos sobre a tragédia da incompetência cultural... Eu sei que nada será como foi. Mas nada será como sonhas.

Tempo Novo: Velhos do Restelo!!! Caminharei com a força da Rua e a sabedoria dos Filósofos.

6 comentários:

R. disse...

Maré: A pedido da Princesa Pat... deixo-lhe este texto...
"Amanecí otra vez entre tus brazos, y desperté llorando de alegría me cobijé la cara con tus manos, para seguirte amando todavia
y despertaste tu, casi dormida, y me querias decir no se que cosas pero callé tu boca com mis besos, y asi pasaron muchas, muchas horas..."
Beijo de nós duas... livre!

Passiflora Maré disse...

r. e Princesa Pat, em espcial para as duas deixo-vos aqui o poema da luminosa Sophia de Mello Breyner, que tinha planeado escrever hoje.

Liberdade

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

armando s. sousa disse...

tenho um certo receio (apesar de não me calar) de dizer que escreves excepcionalmente bem...

neste caso, tenho apenas a dizer, que felizmente a "trova do vento que passa", é uma fantástica música do adriano correia de oliveira, e não tem nada a ver com o portugal, que queremos construir.

uma beijola.

César Paulo Salema disse...

DE autor para autor, um beijo livre, Maré.
Tenho gostado de te redescobrir e ver que por baixo dos teus caracóis de sol sai poesia a potes... Alguma que nem no 11 eu desconfiava, há tantas luas atrás!
Salvé, amiga...

Anónimo disse...

Amigos, hoje o dia está lindo!!!!!!!

Há muito que não vos visitava... e, digo-vos, gosto cada vez mais de vos encontrar aqui!!!

Eu

Passiflora Maré disse...

C. Paulo, opiniões são opiniões. Mas pela admiração e respeito que por ti tenho, muito obrigada.