sexta-feira, 25 de abril de 2008

Poema Vinte e Cinco (ode a uma gaivota operária)



Senhores Barões da terra
Preparai vossa mortalha
Porque desfrutais da terra
E a terra é de quem trabalha
Bem como os frutos que encerra[…]

O café vos deu o ouro
Com que encheis vosso tesouro
A cana vos deu a prata
Que reluz em vosso armário
O cacau vos deu o cobre
Que atirais no chão do pobre
O algodão vos deu o chumbo
Com que matais o operário

Em toda parte, nos campos
Junta-se a nossa outra voz
Escutai, Senhor dos campos
Nós já não somos mais sós.

Queremos bonança e paz
Para cuidar da lavoura
Ceifar o capim que dá
Colher o milho que doura,
Queremos que a terra possa
Ser tão nossa quanto vossa
Porque a terra não tem dono

Senhores Donos da Terra
Queremos plantar no outono
Para ter na primavera
Amor em vez de abandono
Fartura em vez de miséria


(Vinicius de Moraes)


1 comentário:

Anónimo disse...

Seremos hoje livres de facto?
Ah, as correntes que não paranm de nos agrilhoar...