quarta-feira, 16 de abril de 2008

Se houvesse degraus na terra...


Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.


(Herberto Helder)

2 comentários:

R. disse...

Há muito, muito tempo... corri atrás de uma mantilha...
Não era de ouro, mas era uma mantilha.
Corri e não a encontrei.
Nem encontrei ainda a hora em que será inevitável entristecer-me por ter corrido sem a encontrar...
Apesar disso, tenho confiança em mim para acreditar que posso superar a ausência da mantilha, mas talvez definhe se não viver, na vida, para sempre, a hora em que ela me faria falta!

Anónimo disse...

«Nunca desistir de procurar a nossa própria meta mesmo sem a atingir: esse é um dos segredos da felicidade».
Anna Pavlova

Eu