quinta-feira, 29 de maio de 2008

Ao V.


" Poema a Minha Mãe Morta
que não conheci "
Eliezer Demenezes


A tua mão pálida e ausente
tracejando bênçãos sobre meus sonhos aflitos.

Onde estás que apenas te suponho?
Na raiz dos meus pensamentos
Na força obscura dos meus desejos melhores
És talvez esse vôo desgarrado de esperanças,
que há em mim.
És talvez esse veleiro em mar alto à procura de náufragos,
que há em mim.

Na minha vida és como uma ficção ou a lenda de um milagre.
Algo que ficou intangível e suspenso.
Entretanto,
eu guardo na boca a impressão do teu seio
e o gosto do teu leite e do teu sangue.
As palavras, a ternura, os devaneios teus
que se fundiram no silêncio
repousaram na minha carne, certamente.
A tua face esta voltada para mim em mim mesmo,
e talvez só agora que a reconheci
eu possa me chamar de teu filho.


( Antologia da Nova Poesia Brasileira
J.G . de Araujo Jorge - 1a ed. 1948 )

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