domingo, 4 de maio de 2008

Galeria. Retrato n.º 4. Eduardo, Olhos de Lince.


Fotografias de Eduardo Teixeira Pinto.
Reprodução não autorizada.
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Há muito tempo que venho resistindo a escrever sobre o Eduardo.
O pudor de escrever sobre ele advém do facto de estar vivo.
Não com a vida de outrora
Mas com outra mais pequena que se viu compelido a arranjar.
O Eduardo é homem para os seus setenta anos
Grande e simples como um rochedo.
Nele, tudo é simples excepto a sua arte.
Sapatos desaparelhados.
Meias incertas...
Barba de linho em desalinho.
Banho no Báltico.
Olhos azuis, de fotógrafo-poeta
Poeta do Rio.
Sempre o conheci como fotógrafo, de arte maior.
Compondo os noivos, segundo a sua precisão.
Emprestando beleza à noiva ou ternura ao noivo, ou calor aos dois...
O que nas suas fotografias fosse emprestado
Havia de ser no futuro, fonte de muito remoer
Discussão ou necessidade entre o casal.
No seu diagnóstico simples e infalível
Ele via logo ali a dificuldade maior que o casal havia de ter para se relacionar.
É certo que os casais recém formados não o ouviam
Mas olhando para trás podiam ouvir:
“Minha Senhora mais paciência…”
“Vá o Senhor aí, olhe para ela diga que lhe quer bem”.
“Sr. Dr. agora tem de enlaçar a Srª com o seu olhar”.
Fotografou o Rio, só dele, a horas proibidas
A cidade em festa ou em chamas
A vida e o bulício.
Esperou ao frio, a névoa certa
A luz mais límpida
A água mais própria.
Esperou no colo da cidade, cheio ou vazio
Os bombos, sóbrios ou ébrios
A banda de música
A procissão….
Ele encheu a vida dele e a dos outros
Durante mais de cinquenta anos
A fotografar os sonhos, as esperanças, as dores, as desgraças
De todos e cada um.
Bendito sejas Eduardo, pela tua arte e poesia.

7 comentários:

Anónimo disse...

Estou a vê-lo Maré, estou a vê-lo... Lindo, Lindo,mil vezes lindo.
Da A.XIX.

Passiflora Maré disse...

Obrigada A.XIX, por ter gostado.
BJ.

Anónimo disse...

Não conhecendo o aqui homenageado, pela descrição da PM, é realmente um outro "absoluto genuíno" que sempre nos fascina.
Bj.
C. ( EN)

Anabela Magalhães disse...

Excelente "post" sobre uma figura grande, e ainda viva, que fotografou Amarante e os amarantinos como ninguém mais.
E que infelizmente ainda não viu o seu trabalho reconhecido pelo poder local. Para quando a salvação do imenso espólio em negativos, quase votados ao mais completo abandono, em condições de conservação deploráveis numa velha cozinha rural dos arredores de Amarante?

Passiflora Maré disse...

Obrigada Anabela. Só aprecia verdadeiramente a minha galeria escrita de retratos quem vai conhecendo os retratados, ou quem gosta dos absolutos genuínos que são verdadeiramente as pessoas que me interessam, para este efeito.
Tenho uma paixão por aquelas pessoas que vivem sem qualquer tipo de correntes, de mordaça e que no fundo vão construindo a sua vida apenas com as suas regras. Alguns sem nunca violarem nenhumas das ditas regras sociais.

Anónimo disse...

Só mesmo tu! Com a tua sensibilidade e o teu olhar atento retrataste também o Eduardo. Gostei muito. Prabéns.
Bj.
Ti...A

CLAP!CLAP!CLAP! disse...

Belíssimo retrato o seu,mas de sons e memorias recentes.
Sabe que me encheu o olhar?
Estou em dívida.
Grato.
PS:...e agora tenho de ir entregar a T-shirt à BÓ ,que ela tá com ideias de ir até à praia...