domingo, 4 de maio de 2008

Há sempre alguém sublime a lembrar





Natália...memórias de 1987/1988...e uma inesquecível sessão. Alguém que vim a conhecer melhor posteriormente. Alguém que, como muitos, morreu cedo demais. Talvez seja o que acontece aos melhores e aos bons... dizem que Deus os chama para os ter a seu lado mais cedo...

Ó Véspera do Prodígio! - IV

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.


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De amor nada mais resta que um Outubro e quanto mais amada mais desisto
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.
E sei que mais te enleio e te deslumbro porque se mais me ofusco mais existo.Por dentro me ilumino, sol oculto,por fora te ajoelho, corpo místico.
Não me acordes. Estou morta na quermesse dos teus beijos. Etérea, a minha espécie nem teus zelos amantes a demovem.
Mas quanto mais em nuvem me desfaço mais de terra e de fogo é o abraço com que na carne queres reter-me jovem.
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A Defesa do Poeta
Senhores jurados, sou um poeta um multipétalo uivo um defeito e ando com uma camisa de vento ao contrário do esqueleto
Sou um vestíbulo do impossível um lápis de armazenado espanto e por fim com a paciência dos versos espero viver dentro de mim
Sou em código o azul de todos (curtido couro de cicatrizes) uma avaria cantante na maquineta dos felizes
Senhores banqueiros, sois a cidade o vosso enfarte serei não há cidade sem o parque do sono que vos roubei
Senhores professores, que puseste a prémio minha rara edição de raptar-me em crianças que salvo do incêndio da vossa lição
Senhores tiranos que do baralho de em pó volverdes sois os reis sou um poeta jogo-me aos dados ganho as paisagens que não vereis
Senhores heróis até aos dentes puro exercício de ninguém minha cobardia é esperar-vos umas estrofes mais além
Senhores três quatro cinco e sete que medo vos pôs na ordem? que pavor fechou o leque da vossa diferença enquanto homem ?
Senhores juízes que não molhais a pena na tinta da natureza não apedrejeis meu pássaro sem que ele cante minha defesa
Sou uma impudência a mesa posta de um verso onde o possa escrever ó subalimentados do sonho!
A poesia é para comer.

6 comentários:

Anónimo disse...

Já me ri imenso com esta recordação...se me lembro, a Liberdade em estado puro e bruto..o protocolo e o bom tom ás urtigas ou, melhor, aos limões..até o LL (!) ficou sem aquela sua permanente graça ...Bela e única sessão...
Bj.
C(EN)

Guilherme Salem disse...

Lembras-te muito bem...
Foi, de facto, uma bela e única sessão. Bjo C.
Gui

Passiflora Maré disse...

Também me lembro dos limões. Será que se viam??
Ou era só o decote que se abria???

Guilherme Salem disse...

Lembro essa do decote....estilo: "será que estou assim desde início? meu Deus que figura fiz?" até lembro a cara dela quando se apercebeu...há coisas inesquecíveis

César Paulo Salema disse...

So many memories!
E a boquilha que continuava acesa, apesar de nós estarmos já meio acabados com a eloquência do Gui, que no seu estilo infinitamente hilariante e sagaz (sim, porque ele a rir fez o Limoeiro com uma perna às costas, para surpresa dos velhos dos restelos e das patas enervantes), nos fez dourar aquela noite...

Passiflora Maré disse...

O Gui dourou-nos aquela noite e outras, e às vezes penso como é que os responsáveis por aquela respeitosa casa, nos aturaram sem nunca nos chamarem à atenção.
Temos de lhes reconhecer Magnanimidade....
Tinha dias em que entre os escritos loucos, as risotas abafadas e os ditos jocosos eu nem chegava a perceber do que falavam os convidados.
Bem hajam a todos, por ter-mos construído um onze deste tamanho!!!! e perfeição.