quarta-feira, 14 de maio de 2008

No tempo de outro Maio

Naquele tempo, éramos tantos.
Queríamos tudo.
Derrubar as teias de uma enfadonha aranha que nos devorava os sonhos.
Há quarenta anos, intelectuais de diversos países convulsionaram o Ocidente ao realizar o Ocidente com mais ímpeto que os séculos prévios.
Jamais a igualdade foi defendida tão docemente. A revolução sexual começa com a conquista gradual de direitos por pessoas do género feminino e de orientação sexual menos heterodoxa.
As crianças não seriam mais construídas ao bel prazer dos professores e até dos próprios progenitores.
Os casamentos não seriam mais sentenças de prisão perpétua.
O sexo não seria mais encarado tão somente como mero mecanismo de procriação.
A liberdade veio da igualdade.
Como disse Hobsbawm, com a propriedade de costume, "a Idade Média acabou de repente" na década anterior aos eventos.
Não é por acaso que o charmoso e inútil Sarkozy disse que a França se devia livrar do "cinismo de 68".
"Eles venceram e o sinal está fechado para nós, que somos jovens", como diria Belchior.
A nosso redor, quantas práticas terapêuticas!
O que representam?
Quem está doente?
O Ocidente está.
O Oriente também em busca de novos Messias, escondidos, tantas vezes, através de burlescos e sinistros petardos.
Como dizia Gonzaguinha em 1981: "Não há nada mais maior de grande do que a pessoa".
E... contudo, continuo a acreditar em quimeras, em junquilhos brancos e em mãos tocando em mãos.
Até um outro Maio que nos redima e nos recupere de vez para a humanidade.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não deixou, contudo, de ser um grande passo para a Humanidade.

Guilherme Salem disse...

Este Maio de 68 não passa de uma ilusão...algo que foi transformado em evento universal quando, na verdade, não ultrapassou as fronteiras de França, para não dizer de Paris. Que ninguém, aqui, diga que deve algo ao Maio de 68.... e lembrem-se onde andam todos os cabecilhas de então...super instalados nas burguesas cadeiras dos vários poderes franceses e europeus comunitários.Mas há que acreditar em "revoluções"...urbanas e pequeno burguesas, digo eu, como esta. Lá vem pancada...