segunda-feira, 12 de maio de 2008

Uma hora do meu tempo


Um dia, quando um homem chegou tarde a casa, cansado e irritado após um dia
de trabalho, encontrou, esperando por si à porta, o seu filho de 5 anos.
Papá, posso fazer-te uma pergunta?
Claro que sim. O que é?
Quanto ganhas numa hora?
Isso não é da tua conta. Porque me perguntas isso?! - respondeu o homem,
zangado.
Só para saber. Por favor... diz lá... quanto ganhas numa hora? - perguntou
novamente o miúdo.
Bom... já que queres tanto saber, ganho 10 euros por hora.
Oh! - suspirou o rapazinho, baixando a cabeça.
Passado um pouco, olhando para cima, perguntou:
Papá, emprestas-me 5 euros?
O pai, furioso, respondeu:
Se a razão de tu me teres perguntado isso, foi para me pedires dinheiro
para brinquedos caros ou outro disparate qualquer, a resposta é não!
E, de castigo, vais já para a cama. Vai pensando no menino egoísta que estás
a ser.
A minha vida de trabalho é dura demais para eu perder tempo com os teus
caprichos!
O rapazinho, cabisbaixo, dirigiu-se silenciosamente para o seu quarto e
fechou a porta. Sentado na sala, o homem ficou a meditar sobre o
comportamento do filho e ainda se irritou mais. Como se atrevia ele a
fazer-lhe perguntas daquelas?
Como é que, ainda tão novo, já se preocupava em arranjar dinheiro?
Passada mais ou menos uma hora, já mais calmo, o homem começou a ficar com
remorsos da sua reacção. Talvez o filho precisasse mesmo de comprar
qualquer coisa com os 5 euros. Afinal, nem era costume o miúdo pedir-lhe dinheiro.
Dirigiu-se ao quarto do filho e abriu devagarinho a porta.
Já estas a dormir? Perguntou.
Não, papá, ainda estou acordado. - respondeu o miúdo.
Estive a pensar... Talvez tenha sido severo demais contigo? - disse o pai.
Tive um longo e exaustivo dia e acabei por desabafar contigo. Toma lá os 5
euros que me pediste.
O rapazinho endireitou-se imediatamente na cama, sorrindo:
Oh, papá! Obrigado!
E levantando a almofada, pegou num frasco cheio de moedas. O pai, vendo que
o rapaz afinal tinha dinheiro, começou novamente a ficar zangado.
O filho começou lentamente a contar o dinheiro, até que olhou para o pai.
Para que queres mais dinheiro se já tens aí esse? - resmungou o pai.
Porque não tinha o suficiente. Agora já tenho! - respondeu o miúdo.
Papá, agora já tenho 10 euros! Já posso comprar uma hora do teu tempo, não
posso? Por favor, vem uma hora mais cedo amanhã. Gostava tanto de jantar
contigo...


3 comentários:

armando s. sousa disse...

Uma estória tocante, que retrata muito bem, um dos mais graves problemas das sociedades pós-industriais.
Há tempo para tudo, excepto, para a coisa mais importante: a família.

Anónimo disse...

... sem palavras... porque o silêncio e a meditação, nestas circunstâncias, são o melhor remédio...

Eu

Anónimo disse...

Já conhecia a história.
Às vezes também passo por este absurdo violento de sentir que algumas pessoas ( as mais importantes da minha vida) comprariam algum do meu tempo...e queda-se um remorso fundo e escuro que eu todos os dias prometo a mim própria esconjurar...Tem sido uma das minhas lutas de vida.E tenho a sensação que é luta de muita gente...


Bj.
C. (EN)