sexta-feira, 11 de julho de 2008

Houve sempre muitas nuvens.




E aqui estou, cantando.

Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.

Venho de longe e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes
andaram.

Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.

Pois aqui estou, cantando.

Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?

Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?

Cecília Meireles, Discurso.

1 comentário:

Anónimo disse...

O segredo na/da vida é conseguir passar á classe dos sobreviventes - são eles os únicos que verdadeiramente experimentam a plenitude da vida.

Bj.
C(EN)