quinta-feira, 31 de julho de 2008

O estado da arte


Aquela poderia ser mais uma manhã como outra qualquer.

Eis que o sujeito desce na estação do metro, vestindo jeans, camiseta e boné, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora de ponta matinal.
Mesmo assim, durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes.
Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.
Três dias antes Bell havia tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de 1000 dólares.
A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, celular no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino.

A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte.
A conclusão:
estamos habituados a dar valor às coisas quando estão num contexto.
Bell era uma obra de arte sem moldura.
Um artefacto de luxo sem etiqueta de grife.

2 comentários:

Anabela Magalhães disse...

Já sabia desta experiência.
E fiquei a pensar... se fosse num parque ou num jardim, num sítio onde as pessoas andam com mais calma e são mais contemplativas o resultado seria o mesmo? Provavelmente não. Provavelmente dar-se-iam conta da obra-prima e não a confundiriam com a moldura, absolutamente dispensável em arte.

Anónimo disse...

Realmente...
Como somos manipulados e amputados sem nos darmos conta...é triste.

Bj.
C(EN)