terça-feira, 5 de agosto de 2008

Tecendo a Manhã


Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia ténue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto

2 comentários:

Anónimo disse...

Com dificuldade (fisíca e de alma para falar) forço-me a quebrar o silêncio perante o meu amado João Cabral de Melo e Neto e a pertinência do post (como sempre...) e que hoje clamo ara mim ainda que à revelia e em jeito de usurpação.
Um beijo enormeeeeeeeeeeeeeeeeee.

Passiflora Maré disse...

Obrigada Amiga.
Um beijo.