Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia ténue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
João Cabral de Melo Neto
2 comentários:
Com dificuldade (fisíca e de alma para falar) forço-me a quebrar o silêncio perante o meu amado João Cabral de Melo e Neto e a pertinência do post (como sempre...) e que hoje clamo ara mim ainda que à revelia e em jeito de usurpação.
Um beijo enormeeeeeeeeeeeeeeeeee.
Obrigada Amiga.
Um beijo.
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