terça-feira, 16 de setembro de 2008

Marco Polo



Marco Polo, nasceu em Veneza em 15 de Setembro de 1254. Foi um dos primeiros ocidentais a percorrer a Rota da Seda. O relato detalhado das suas viagens pelo oriente, incluindo a China, foi durante muito tempo uma das poucas fontes de informação sobre a Ásia no ocidente.
Esteve na corte do rei mongol Kublai Kan, neto do poderoso Gengis Kan e, a seu serviço, percorreu a Tartária, a China e a Indochina. Voltou a Veneza, mediante permissão do Imperador, em 1295.
Marco Polo foi feito prisioneiro na guerra contra Génova. Durante o cativeiro, ditou as suas aventuras de viagem a Rusticiano de Pisa, também prisioneiro.
Existem, no entanto dúvidas sobre a efectiva realização por Marco Polo de todas as viagens que contou, havendo quem pense que, em alguns casos, narrou histórias que ouviu de outros viajantes. Mas, quaisquer que tenham sido as fontes de A Descrição do Mundo, de Marco Polo, aquela descrição é reconhecidamente importante, quer na época, quer na actualidade.

Reflectindo esta relativização das Viagens de Marco Polo deixo aqui um interessantíssimo diálogo entre o próprio Marco Polo e Kublai Kan, in Calvino, Italo; As Cidades Invisíveis; Lisboa: Editorial Teorema; 2006.


Kublai:-- Não sei quando tiveste tempo para visitar todos os países que me descreves. Eu acho que tu nunca saíste deste jardim.


Polo:- Cada coisa que vejo e faço toma sentido num espaço da mente onde reina a mesma calma daqui, a mesma penumbra, o mesmo silêncio percorrido pelo estalar das folhas. No momento em que me concentro a reflectir, dou comigo sempre neste jardim, a esta hora da tarde, na tua augusta presença, embora continuando sem um instante de pausa a subir um rio verde de crocodilos ou a contar os barris de peixe salgado que colocam no porão.


Kublai:- Nem eu tenho a certeza de estar aqui, a passear por entre as fontes de pórfiro, ouvindo o eco dos repuxos, e não a cavalgar coberto de suor e de sangue à cabeça do meu exército, conquistando os países que tu terás de descrever, ou a cortar os dedos dos sitiantes que escalam as muralhas de uma fortaleza assediada.


Polo:- Talvez este jardim só exista à sombra das nossas pálpebras cerradas, e nunca tenhamos deixado, tu de erguer poeira nos campos de batalha, e eu de contar sacos de pimenta em longínquos mercados, mas sempre que semicerramos os olhos no meio da algazarra e do tropel é-nos concedido o retirarmo-nos aqui vestidos de quimonos de seda, a considerar o que estamos a ver e a viver, a tirar as somas, a contemplar de longe.


Kublai:- Talvez este nosso diálogo esteja a desenrolar-se entre dois vagabundos alcunhados de Kublai Kan e Marco Polo, que estejam a vasculhar num depósito de lixo, amontoando destroços enferrujados, bocados de pano, papel velho, e que bêbedos com poucos goles de vinho ordinário vejam à sua volta resplandecer todos os tesouros do Oriente.


Polo:- Talvez do mundo só tenha restado um terreno vazio coberto de imundícies, e o jardim suspenso do palácio do Grão Kan. São as nossas pálpebras que os separam, mas não se sabe qual está dentro e qual está fora.



(Nota: o agendamento automático pregou-me uma partida, por isso só hoje publico este post.)

2 comentários:

R. disse...

Maré!
Do melhor que tenho lido!
Gosto de pensar que mesmo no ir há hipótese de permanecer e no acomodar esperança de andar em frente!
Obrigada,
R.

Anabela Magalhães disse...

Desconhecia este belíssimo texto que nos obriga a múltiplas interrogações.
Obrigada pela partilha.