terça-feira, 16 de setembro de 2008

Nessa lua que se afundava...

Ouvi, vindo da lua que um dia eu te dei, e que se afundava, a olhos vistos, uma prece:
"Eu não voltarei.
E a noite morna, serena, calada, adormecerá tudo, sob sua lua solitária.
Meu corpo estará ausente, e pela janela alta entrará a brisa fresca a perguntar por minha alma. Ignoro se alguém me aguarda de ausência tão prolongada, ou beija a minha lembrança entre carícias e lágrimas.
Mas haverá estrelas, flores e suspiros e esperanças, e amor nas alamedas, sob a sombra das ramagens.
E tocará esse piano como nesta noite plácida, não havendo quem o escute, a pensar, nesta varanda".
Nesse momento, sentei-me no barco
e circundei a lua que ainda estava hirta nas águas felizes do nosso ocaso.
Não olhei para trás.
Não vi que, ao longe, tu me piscavas os olhos rasos de água
E não ouvi a sonata que me dedicaste.
Se alguém me espera, no alto da minha queda,
é porque mereço.

1 comentário:

R. disse...

Curioso!
Esta noite despertei com a lua. Demasiado ocupada para a procurar, foi ela que me bateu à janela.
Cheia, clara, meia força e meia mágoa. Espelho. Dela. E de mim, naquela hora mais mágoa que força e cegueira que sentir.
Há noites em que, se a lua não nos força, somos capazes de a esquecer. Para sempre. Porque a lua é diferente todas as noites. Como nós!