sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O Sonho do Mar


Quando a gente olha para o mar calmo, parece que ele está
todo ali, ao cimo das ondas. Mas é um engano.

O mar esconde as lembranças que todos os mares desde sempre
nele foram deixando. E a lembrança dos rios. E das chuvas.

E de todas as águas escorregadias do mundo.
Quando sonha, os torvelinhos do seu sonho trazem ao cimo
aventuras antigas de barcos à vela, de gaivotas loucas,
de cidades submersas.

Conta a lenda que um moleiro tinha três filhas.
Para fugirem ao rangido triste da roda da azenha, noite e dia
a rodar, as três irmãs desciam pela margem do rio até ao mar.

E na praia, quando já era escuro, banhavam-se alegremente
em água e luar.

Mal elas sabiam que o mar as via.

Um dia, à frente delas apareceu-lhes um jovem montado sobre
as ondas.

Elas não se assustaram e quiseram saber:

- Quem és tu?
- Sou a força do mar.

- Onde vives?
- No fundo do mar.

E para o fundo do mar voltou.

No dia seguinte, as três irmãs, cada uma por sua vez, desceram
à praia. Já não vinham juntas e alegres como dantes.

Pisando a areia molhada, cada uma por sua vez esperava
ver surgir, montado sobre as ondas, só para ela, o jovem que dizia
ser a força do mar.

Tantas e tantas noites vieram que, a pouco e pouco, se foram
deixando ficar. Já não falavam sequer umas com as outras.

E cada uma, fechada e isolada em seu silêncio, mais parecia
uma ilha ou um penedo, guardando segredo.

António Torrado e Maria Alberta Menéres, Histórias Em Ponto De Contar

2 comentários:

Anónimo disse...

E o problema das "manas" não está no mar...elas apenas "deslocalizaram" o eterno( seu ) problema da na roda da azenha a rodar para o mar.

E propósito, ouvi dizer que Setembro vai estar lindo para se ver o mar.

Bj.
C(EN)

Passiflora Maré disse...

Cristina gostava muito de te visitar, mas não estou a vislumbrar quaisquer condições para marcarmos um encontro em tua casa, neste mês de Setembro, talvez em Outubro.
O Gui ainda nem deu sinais de vida.
O Início do meu ano está ser tremendamente trabalhoso e difícil quer em termos pessoais, quer em termos institucionais.
De qualquer dos modos "ESCREVE", e os outros que se pronunciem!!!