Maria de Fátima Cristino Teixeira Dias de Cardoso de Meneses de Almeida
(1934-2010)
A cidadela anda triste.
Sonolenta.
Cabisbaixa.
No branco quarto de uma moradia coimbrã, perto da saudade de todos nós, lutou pela vida (a mais indecente das nossas obsessões) durante oito insanos anos uma mulher ímpar, capaz de comandar sete filhos - que amou como poucas -, capaz de soletrar afectos surdos mas eficazes, capaz da maior generosidade desta vida, dona do olhar mais brilhante e mais profundo que alguma vez conheci.
Foi amada.
Demais...
A cidadela continua triste.
O veludo do seu olhar tocou-nos.
A força do seu interior chegou-nos, sem aviso.
O ruído do seu silêncio forçado animou-nos.
Os anjos bons – que a levaram para o solar dos eleitos, perto das nuvens solarengas - segredam aos seus ouvidos recados de melhores dias, de sonatas inacabadas que ainda necessitam de um acerto final.
Ela é e foi Fátima. Por convicção.
Viveu sempre heroicamente e tive a felicidade de a ter como sogra.
Mãe e filha são duas mulheres que se confundem.
Não são irmãs, nem sequer gémeas,
são ferro e fogo, princípio e fim uma da outra.
Uma delas conheço-a melhor que ninguém.
E venero-a.
Por ser capaz de plantar magnólias no penedo mais breu.
Naquele canto sofrido da memória,
sofreu – até ao fim - em silêncio a outra mulher
Uma lutadora de corpo e face inteira
Que à primeira deu vida, avenidas, mundos.
A primeira agiu.
Buscou ventos na Abissínia.
Encomendou elixires da Nicarágua.
Inventou remédios que não curam.
Soletrou poemas com o olhar e com a sua vontade indómita de ver a outra ainda neste mundo,
Por mais um minuto que seja...
E aquela outra mulher
tudo via paciente,
sabendo que vivia – também - por ela
e aguardou o instante derradeiro da sua própria rendição,
como que para não lhe causar um desgosto ainda maior...
Via-as todos os dias.
E o meu espanto não parou de me sublimar.
O elo divino entre estas duas mulheres arranca-me do tédio da vida normalizada,
dos uns e dos outros,
dos que teimam em ter sucesso na vida,
sem curar de regar as raízes de que brotaram.
Não sei que força moveu uma.
Não sei que compromisso maior reteve a outra durante tanto tempo entre nós, apesar do vil sofrer.
Só sei que o vento que irrompia de uma era o ar que ainda susteve a outra.
Para sempre.
Fatiminha, descansa em paz.
Nós… ficamos bem!
Paulo Guerra (genro)
Em tempo: os meus agradecimentos aos anjos brancos Maria do Rosário, Maria Rosa, Gabriela, Margarida, Nuno, Marta, Tiago, Adelino, João, Gisélia, Andreia, Cátia, Marisa, Rafael, Sara, Sara e Sofia.
Foram eles que a embalaram, segura e digna, até à ultima porta.
12 comentários:
Meus queridos, quase nem sei que dizer. Um beijo...e muita serenidade e fé.
Quem vive deve morrer, passando da natureza para a eternidade
(Shakespeare)
Eu
Je vous embrasse tendrement.
Je pense très fort à vous.
Chloé
Um grande abraço aos dois, só conhecendo um, embora...
P. Linda Balada para uma Mulher Coragem.
Admirou-a sempre ...
Esteve com a C. em todos os momentos ( tão sofridos, tão longos, tão sentidos )
Sei como se sente, vi no seu olhar !
Sei como se sente a C.porque sei o que é este sentir!
Com três letrinhas apenas se escreve a palavra Mãe!
Palavra tão pequenina ... tão Linda que mesmo quando já não a temos fisicamente está sempre, e, em todos os momentos ...presente... até ao resto da nossa vida!
De outra maneira:
nas lembranças, nos nossos sonhos, nas marcas do nosso rosto, na nossa identidade, na nossa referência, no pulsar dos nossos anseios e sempre... sempre... e para sempre no nosso coração...
Estou e estarei sempre convosco
Tenho nome de Flor
Inventem o presente
com fé e confiança
caminhem têm na frente
um mundo de esperança.
Inventem o presente
e levem o que vos dei
não parem vão em frente
e esqueçam se eu fiquei...
Inventem o presente
e ao futuro chegarão
Mas não passem à frene
Lembrem o vosso Irmão!
MFSCTDCMA
poema de Natal oferecido aos filhos
esta SENHORA era gigante.
Conheci-a e sei do que falo.
Que descanse em PAZ
os mortos amados - como ela foi - nunca acabam de morrer...
Fique em paz.
UM abraço para a C. e o P.
PASSIFLORA
Lindas palavras para uma linda mulher.
Sendo que a beleza interior correspondia à exterior, um grande beijo pela perda.
Resta a consolação de ficares com a filha, não é?
Para sempre, Amélia...
Um abraço
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