Pedra filosofal
Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer, como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso, como este ribeiro manso em serenos sobressaltos, como estes pinheiros altos que em verde e oiro se agitam, como estas aves que gritam em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho é vinho, é espuma, é fermento, bichinho álacre e sedento, de focinho pontiagudo, que fossa através de tudo num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho é tela, é cor, é pincel, base, fuste, capitel, arco em ogiva, vitral, pináculo de catedral, contraponto, sinfonia, máscara grega, magia, que é retorta de alquimista, mapa do mundo distante, rosa-dos-ventos, Infante, caravela quinhentista, que é Cabo da Boa Esperança, ouro, canela, marfim, florete de espadachim, bastidor, passo de dança, Colombina e Arlequim, passarola voadora, pára-raios, locomotiva, barco de proa festiva, alto-forno, geradora, cisão do átomo, radar, ultra-som, televisão, desembarque em foguetão na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança.
António Gedeão (Rómulo Vasco da Gama de Carvalho )
4 comentários:
Na versão "MEC": todos queremos o mesmo-continuar a querer e crer.
E o Onassis, abaixo, também pensa o mesmo.
Bj.
Ainda bem que foi interrompida a "interrupção", P.
C (EN)
Obrigada EN, o tempo é muito pouco nestes últimos tempos e os afazeres muitos e complicados...
Bj e saudades.
Pois, afazeres muitos e complicados... subscrevo, Passi.
Mas é sempre bom passar por aqui, e ter umas agradáveis surpresas, como esta de hoje, com esta Pedra Filosofal. Acho que é o próprio país que está a precisar desta poesia!
Beijinho
Só podia ser Antonio!
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