sábado, 22 de novembro de 2008

Poema de uma tarde só


Não tenhas medo do amor.

Pousa a tua mão devagar sobre o peito da terra e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas que ali estão a crescer:
o linho e genciana;
as ervilhas-de-cheiro
e as campainhas azuis;
a menta perfumada para
as infusões do verão e a teia de raízes de um
pequeno loureiro que se organiza como uma rede
de veias na confusão de um corpo.

A vida nunca
foi só Inverno, nunca foi só bruma e desamparo.
Se bem que chova ainda, não te importes:
pousa a tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor
da tempestade que faz ruir os muros:
explode no
teu coração um amor-perfeito,
será doce o seu
pólen na corola de um beijo,
não tenhas medo,
hão-de pedir-to quando chegar a primavera.


(M.R.P.)

2 comentários:

Guilherme Salem disse...

Tão bonito.

Anónimo disse...

Tão sentido, tão perfeito , tão único...como quem sabe, que apesar dos pesares, é na entrega completa que reside, o amor, a vida, o significado desta e de todas as encarnações passadas e futuras!...se se der de coração, o retorno é inevitável!! talvez não hoje, nem amanhá, ou nem depois, mas um dia!!
Dulcineia