sábado, 7 de março de 2009

Um amor em cada curva do caminho


Querida Amiga.

Recebia a tua missiva e escaldei-me nas palavras.
Sabia há muito tempo que inventaras um ninhal de amores-mais-que-perfeitos, onde as velas e as flores enchem jantares românticos à média luz.
Tive esperança, minha amiga, ou a ilusão, de que deixasses de confundir o amor com o arrebatamento da paixão, e que pudesses vir a saborear a tranquilidade de um amor maduro, feito de alguma distância, de muita sabedoria, de olhares de cumplicidade em silêncio, enfim duas copas numa árvore!
Sei que és nova que o viço e a paixão não te deixam ver além da dor da ausência e da urgência do amor, mas poderás ao menos ponderar, não te entregar na primeira brisa de mel, ou no primeiro chuveiro de Verão.
Perdes, minha amiga, nesse jogo do gato e do rato onde pensas fazer o papel de gato e armas a ratoeira onde só tu cais.
Não sabes atrapalhar o jogo.
Não conheces a fria indiferença.
Não suportas um silêncio mais pesado.
Não sabes trocar as voltas aos teus adorados ratos.
O pânico da solidão ocupa-te desde sempre. É ele que te enche a cabeça do vazio branco da hora de dizer adeus.
Não esperes um amor em todas as curvas do caminho. Nem uma vida tem tantos amores como as curvas da tua mão!
Ultrapassaste a barreira da sanidade. Iludes-te com o psicótico jogo, sem lógica nem racionalidade, " do vi dois pombos, cruzei três caminhos, hoje é o meu dia!".
É isto que retiro da tua carta. Desculpa Júlia, se pareço insensível e pouco amistosa.
Mas o enrolado dos teus amores é um labirinto sem saída, porque nunca resolveste nenhum antes de te entregares ao seguinte.
Foges sempre para a frente.

Espero que te recomponhas.
Um abraço.
Sousa, 17 de Dezembro de 2008.
Beatriz

5 comentários:

César Paulo Salema disse...

Querida PM:
Também te revi há poucos dias, na sala do nosso limoeiro, onde, um dia, fomos felizes...
A mesma tez, os cabelos mais curtos, o mesmo riso.
Naveguei para o fumo do passado risonho que não quero perder. Tu fazes parte dele, sempre!
Beija-te o Amigo
César

Passiflora Maré disse...

Obrigada C. Paulo não sabes a alegria que tive quando te vi. Foi como se tivesse sido comtemplada, de repente e inesperadamente, com um presente precioso.
Um beijo de grande amizade.
P.S. Às vezes temos a noção do que, entretanto, perdemos.

Anónimo disse...

este texto é magnífico. e tremendamente verdadeiro. como se o amor do amado tapasse algum dia buracos que o amor próprio (ou a falta) nem vê...era bom que muitos lessem! estou grata por ter lido. Obrigada

Anónimo disse...

Também acho lindíssima carta - espelho meu ?

Bj.
C(EN)

Guilherme Salem disse...

Do que, entretanto perdemos ? achas mesmo isso PM? eu acho que não perdemos nada. Nada mesmo.
Beijo. Gui. O de sempre ....e conta mais de vinte anos nisso...