segunda-feira, 20 de abril de 2009

Amei


Amei.
É incompreensível como o tremor das árvores.
Agora estou extraviado na luz porém sei que amei.
Eu vivia num ser e seu sangue deslizava pelas minhas veias e
a música me envolvia e eu mesmo era música.
Agora, quem está cego nos meus olhos?
Umas mãos passavam sobre meu rosto e envelheciam docemente.
Que foi existir entre cordas e espíritos?
Quem fui nos braços da minha mãe,
quem fui no meu próprio coração?
É estranho: somente aprendi a desconhecer e esquecer.
É estranho:
agora, o amor
habita no esquecimento.

António Gamoneda
trad. de António Cícero

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