quarta-feira, 22 de abril de 2009

Como o verso ou o desejo



Gostava dessa espécie de beleza
que podemos surpreender a cada passo,
desvelada pelo acaso numa esquina
de arrabalde; a beleza de uma casa devoluta
que foi toda a infância de alguém,
com visitas ao domingo e tardes no quintal
depois da escola; a beleza crepuscular
de alguns rostos num retrato de família
a preto e branco, ou a de certos hotéis
que conheceram há muito os seus dias de fulgor
e foram perdendo as estrelas; a beleza condenada
que nos toma de repente, como um verso
ou o desejo, como um copo que se parte
e dispersa no soalho a frágil luz de um instante.
Gostava de tudo isso que o deixava muito a sós
consigo mesmo, essa espécie de beleza arruinada
onde a vida encontra o espelho mais fiel.


Rui Pires Cabral
N.B. Passiflora, roubei-te aquela vista sobre um mar que é também meu pois é uma das mais belas fotografias que tenho visto...

2 comentários:

Passiflora Maré disse...

Querido César ninguém nos pode roubar o que não é nosso.
O facto de eu ter paciência para escolher fotos encontradas na Net não me dá nehum direito sbre elas, apenas indicia uma qualidade...
Belo o poema e as fotos.

Guilherme Salem disse...

Bla, bla , bla...a fotografia é linda...e, até me dizerem o contrário, é de todos. Por acaso, nem gosto dos vasos. Mas que é linda é. Um abraço à Passi e ao César..
A Net fornece todas as fotos que aqui se colocam...mais que paciência...é vontade.