quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O dia primeiro




O verbo nunca esteve no início
dos grandes acontecimentos.
No início estamos nós, sujeitos
sem predicados,
tímidos,
embaraçados,
às voltas com mil pequenos problemas
de delicadezas,
de tentativas e recuos,
neste jogo que se improvisa à sombra
do bem e do mal.

No início estão as reticências,
este-querer-não-querendo,
os meios-tons,
a meia-luz,
os interditos
e as grandes hesitações
que se iluminam
e se apagam de repente.

No início não há memória nem sentença,
apenas um jeito do coração
enunciar que uma flor vai-se abrindo
como um dia de festa, ou de verão.

No início ou no fim (tudo é finício)
a gente se lembra de que está mesmo com Deus
à espera de um grande acontecimento,
mas nunca se dá conta de que é preciso
ir roendo,
roendo,
roendo
um osso duro de roer.

Gilberto Mendonça Teles, Alibis

3 comentários:

DI disse...

É na predicação que assenta a face ôntica da nossa existência, enquanto seres lançados no mundo, pelo que predicado e sujeito surgem, pois, como duas faces de uma mesma moeda: Nós somos tal ou tal porque existimos.Esta talidade do nosso Ser possibilita o que somos a cada momento, consubstanciando o ultrapassar do querer-não-querendo através de um verbo que dá por findo o início: decidir.

Guilherme Salem disse...

Meu querido...esse dia acontece só a alguns e, eu acho, que nós somos uns dos premiados...para o bem e para o mal.
Sabemos tão bem o que é o querer sem querer, como o não querer/querendo...toda a conflituidade de sentimentos e sensações e emoções.
Uma Grande WOW e até breve, espero...para o que se combinou meio no ar.
BJos. GUI

anjo disse...

A primeira visita é assim______________________________

_____________________________ e assim_______________________


Obrigado!