quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Temporal


Gosto de sentir a natureza e fingir
que não lhe pertenço.
A mão gigante do vento vai sacudindo o carro

contra o mar
com grandes chapadas brancas.

Não é o mundo que tenho na cabeça
as gotas de água que embaciam o vidro
e o véu da chuva o da noiva submissa.

As palavras não querem ser irmãs das ondas
e o meu silêncio não é filho
desta tempestade.

Mas como é belo
que tudo viva na luta de viver.
A fúria da maré no espelho do meu rosto
como um poema de Pedro Homem de Mello.

O som mais natural
dá-me a nitidez dos choros suicidas
e transporta no tempo
esse luxo dos homens que se chama
esperança.

No céu baila e divaga mais uma gaivota.
No chão perto do mar
outro baile circunda o coração.
Mas nunca saberei como dançar...

Armando Silva Carvalho

1 comentário:

DI disse...

O mar revolto desperta o sentir da esperança, o desejo de procurar, o instintivo querer chegar à «terra firme» que se alcança, primeiro, dentro de nós...