domingo, 7 de fevereiro de 2010

Ofício de intensidade e calma


Um ofício que fosse de intensidade e calma
e de um fulgor feliz


E que durasse
com a densidade ardente e contemporâneo
de quem está no elemento aceso e é a estatura
da água num corpo de alegria

E que fosse fundo
o fervor de ser a metamorfose da matéria
que já não se separa da incessante busca
que se identifica com a concavidade originária
que nos faz andar e estar de pé
expostos sempre à única face do mundo

Que a palavra fosse sempre a travessia
de um espaço em que ela própria fosse aérea
do outro lado de nós e do outro lado de cá
tão idêntica a si que unisse o dizer e o ser
e já sem distância e não-distância nada a separasse
desse rosto que na travessia é o rosto do ar e de nós próprios

António Ramos Rosa,
"Poemas Inéditos"

1 comentário:

b disse...

Deveríamos ter 2 tempos a cumprir - o da palavra e o do silêncio.
Ofícios...e assim coloco a admiração pela beleza de poema , diante da Magnólia em frente a janela.
Obrigada.