terça-feira, 23 de março de 2010

Espelho meu




Espelho meu, espelho meu,
que venturas procuras ainda na minha fronte
Que muros cinzentos ainda terás de erguer
para que eu chegue à altura das tuas sedas?
Sei quem - irremediavelmente - sou e calculo que serei por isso perdoado
Nesta hora de espanto sem lado,
de noite sem hora,
de fumo sem labaredas,
de indecentes despedidas,
quero desejar-te,
a ti, espelho meu,
companheiro errante dos meus ecos e dos meus ais,
arauto de garças perdidas,
um novo brilho, prata de um ouro fino,
futuro radioso dos meus anais...
Quem me vê vai deixar de me ver assim.
Reflectes apenas o ébano claro que há em mim.
E voltarei, ufano, desta ilha,
pronto para te partir em mil e um pedaços
e procurar um outro charco transparente,
lagoa das setecentas cidades,
onde, enfim,eu me possa revelar
incompleto,
imperfeito,
irrequieto,
desengonçado,
com a sombra do pecado por defeito...

Espelho meu, espelho meu,
há alguém mais triste do que eu?

4 comentários:

Anónimo disse...

Belissimamente escrito.
F.

Anónimo disse...

wonderful!
Music and lyrisc!
You're a poet

Zoe

Anónimo disse...

Belissimo P.
Que bem que escreve P...!
E a sua escrita corresponde na perfeição à sua pessoa.
Para escrever assim tem de ter a sensibilidade, a inquietude, a alegria com tristeza por perto.
Mas, também tem de estar desperto!
Para escrever assim tem de estar certo e inseguro ou seja tem de ser ESPECIAL!
É, ainda melhor, ler tudo o que escreve quando se conheçe!.
É bom tê-lo de vez em quando por perto.
A sua escrita é tão simples e ao mesmo tempo tão fina como é o seu ser.
Obrigada , por de vez em quando nos ir visitar.
E continue sempre a escrever !
Tenho nome de Flor

César Paulo Salema disse...

Obg flor sem nome.