quinta-feira, 10 de junho de 2010

Na minha Magnolia é sempre feriado


Preste atenção na imagem acima.

Fixe seu olhar no miolo da flor. Consegue ver? Todas as pétalas (que são os personagens) estão presas no miolo dessa flor, fazendo parte de um único ciclo, uma única vida. Representam a fragilidade. Estão, mesmo que indiretamente, buscando pelos mesmos objetivos. Ou seja, uma alteração "comportamental" acarretaria num descarrilamento, quebrando o ritmo de vida das pétalas que a cercam. São pétalas direfentes e solitárias, mas que fazem parte do mesmo ciclo, estão interligadas para sempre, é a natureza delas, até que o acaso venha a lhes separar.

Não há maneira exata para definir o que Paul Thomas Anderson quis dizer com Magnólia. Uma simples análise superficial é capaz de apontar inúmeras metáforas que permeiam o filme, mas não cabe jogar toda uma interpretação pessoal acerca do longa em cima das metáforas que ele apresenta ao longo da metragem de 188 minutos, já que a trama é muito mais complexa, tornando a missão do "compreendimento" dos simbolismos ainda mais difícil. Na verdade, é praticamente impossível compreender Magnólia com uma única visualização. Anderson criou um universo particular gigantesco, não só pelos incontáveis personagens, mas também pelo uso abundante de simbologias e metáforas (você irá ouvir muito estas palavras durante este texto) que tornam o exercício ainda mais fascinante. Para quem busca respostas em Magnólia, todo o cuidado é pouco. Estas respostas podem não ser encontradas.

Ao passo que a trama desenvolve-se, Anderson explica muito pouco e sugere muito mais. Essa falta de norte faz com que o diretor e roterista consiga manter o espectador preso à história, tentando compreender tudo que vê. E é normal ficar embasbacado e confuso durante o primeiro ato, tamanha é a distribuição de histórias que, à primeira vista, não apresentam nada em comum. Em tempo, é possível começar e perceber as ligações e principalmente os sentimentos que movem cada um dos persongens com o início do segundo ato. Aliás, a coleção de personagens elaborada por Paul Thomas Anderson é fantástica. Deve-se fazer um registro, este "fantástica" pode sugerir um tom fantasioso que não existe nos personagens de Magnólia, aqui tudo é absolutamente crível e verossímel (!).

A galeria de personagens do filme apresenta o garoto prodígio, Stanley Spector (Jeremy Blackman), seu pai (Michael Bowen), o apresentador do programa que Stanley participa, Jimmy Gator (Philip Baker Hall), o produtor do programa que está à beira da morte, Earl Partridge (Jason Robards), a esposa de Earl (Julianne Moore) que casou por dinheiro e agora está descobrindo que ama o marido, o enfermeiro de Earl, Phil Parma (Philip Seymour Hoffman), Frank T.J. Mackey (Tom Cruise), que cresceu odiando Earl e agora dá seminários para solteiros. Como se as coincidências não tivessem um fim, Jimmy Gator tem uma filha com quem não fala há anos, Claudia Wilson Gator (Melora Waters). Claudia é viciada em crack e recebe uma visita do policial Jim Kurring (John C. Reilly) segundo acusações de som alto em seu apartamento, onde os dois acabam se apaixonando. Enquanto isso, Donnie Smith (Wlliam H. Macy), que em 1968 bateu o recorde do mesmo programa que Stanley participa, mas hoje vive depressivo tentando buscar algum significado na vida. E isso é só o começo.

Em meio a tantos personagens, quem será o representante do diretor dentro do filme. Todo mundo sabe que Anderson não atua no filme, mas atráves de alguém ele se coloca para tentar contar a história. Tudo indica que seja o personagem de Seymour Hoffman, Phil Parma, o enfermeiro a que tudo vê, passivo e tranquilo, como se não interferisse em nada na trama, e, talvez, o personagem menos sentimental do filme. Mas não podemos descartar a possibilidade de Donnie Smith (Macy), já que ele também assisti a tudo impotente e busca respostas, assim como o próprio filme. No entanto, pode ser que o cineasta tenha deixado os símbolos e as metáforas falarem mais alto. Por exemplo, grande parte da idéia (ou toda ela) da trama está em seu cartaz. Um olhar atento revela muito da história, assim como o paralelo entre a flor de magnólia e o filme (que foi traçado no primeiro parágrafo deste texto).

Naquele pedacinho de céu encontra-se a peça chave. O indício básico, a grande simbologia metaforizada. A simbologia precisa, a metáfora disfuncional, os diálogos humildes e realistas, o confronto com a verdade, a recaída, a superação, a vida, a morte, a dor, o sofrimento, a alegria, a hipocrisia, a letargia, a apatia, a entrega, a manipulação, a sujeira, a beleza, o lado humano, o lado animal, a razão, a dúvida, a dívida, o preço a ser pago e a... chuva de sapos. Tudo isso faz parte da mensagem de Magnólia. O resto? Bem, o resto ainda não foi compreendido.
Lido no blog brasileiro - tudoecritica.blogspot.com
É por isso que este é o filme da MINHA vida...

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