Tribunal
Somos nós os culpados do que somos.
É de mim que me queixo.
Tão intensa foi sempre a minha voz,
que ninguém a entendeu.
Por isso, quanto mais água pedi,
mais distante me vi
de cada fonte que me apeteceu.
E agora é tarde, já nem sede tenho.
Ou tenho-a como os cactos:
Eriçada de espinhos.
Olho de longe a bica tentadora,
advinho-lhe o gosto e a frescura,
e é de borco na areia abrasadora
que refresco a secura.
Miguel Torga, Coimbra 6 de Dezembro de 1956
Somos nós os culpados do que somos.
É de mim que me queixo.
Tão intensa foi sempre a minha voz,
que ninguém a entendeu.
Por isso, quanto mais água pedi,
mais distante me vi
de cada fonte que me apeteceu.
E agora é tarde, já nem sede tenho.
Ou tenho-a como os cactos:
Eriçada de espinhos.
Olho de longe a bica tentadora,
advinho-lhe o gosto e a frescura,
e é de borco na areia abrasadora
que refresco a secura.
Miguel Torga, Coimbra 6 de Dezembro de 1956
1 comentário:
Não fales em tribunais...mesmo com o Torga como pretexto. Fica bem.
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