Um Eléctrico Chamado Desejo” é uma obra-prima da dramaturgia do século XX que estabeleceu Tennessee Williams como um dos maiores autores americanos.
Aqui retrata-se o confronto entre os valores tradicionais do Sul da América e o materialismo agressivo da América moderna.
Blanche DuBois, uma frágil e solitária beldade sulista, decide visitar a sua irmã, Stella, que vive num bairro pobre de Nova Orleães.
Numa altura em que a sua vida se encontra em declínio, Blanche acaba por se confrontar com o marido de Stella, Stanley Kowalski, cujo temperamento rude tanto ofende como atrai a sua educada sensibilidade.
Enquanto o jazz dos anos 40 enche os bares locais durante a noite, as tensões crescem até atingirem um ponto de ruptura inevitável.
Blanche DuBois, uma frágil e solitária beldade sulista, decide visitar a sua irmã, Stella, que vive num bairro pobre de Nova Orleães.
Numa altura em que a sua vida se encontra em declínio, Blanche acaba por se confrontar com o marido de Stella, Stanley Kowalski, cujo temperamento rude tanto ofende como atrai a sua educada sensibilidade.
Enquanto o jazz dos anos 40 enche os bares locais durante a noite, as tensões crescem até atingirem um ponto de ruptura inevitável.
Claro que, tal como os fantasmas da vida de Blanche, outros de celuloide, a preto e branco, hão-de ensombrar todas as representações que se fizerem de O Eléctrico...
É impossível não fazer um link mental direto para versão cinematográfica, realizada por Elia Kazan, quatro anos depois da peça, em 1951 (12 nomeações e quatro estatuetas) e para as forças antagónicas e magnéticas, ao mesmo tempo repulsivas e atrativas que moviam Marlon Brando e Vivien Leigh.
Diogo Infante obrigou-se a não rever o filme, recomendou o mesmo ao elenco. "Quis voltar à génese que é o texto. Para que não ficássemos impressionáveis perante uma versão tão feliz como a de Elia Kazan. Para poder ter um olhar genuíno e fresco sobre o texto, e sermos nós a encontrar os subtextos e a própria organicidade nas relações entre as personagens".
Não lhe interessou também transportar a ação para os tempos atuais. Afinal, se se passasse agora, comenta Alexandra, a única diferença é que talvez "as pessoas fumassem e bebessem menos" ou talvez se drogassem mais, "mas, de resto, a peça é incrivelmente atual", continua Diogo.
É sobre a amargura, a desilusão, o vício, o alcoolismo, a dependência, o desejo, a loucura. É tudo tão pungente e trágico. "Na essência, é uma peça sobre a natureza humana, refletida por Teneessee Williams de uma forma crua. Não é tanto sobre a maldade, é mais sobre a incapacidade de se colocar na pele do outro".
Quase um duelo, com um perdedor anunciado à partida, que é o que acontece quando o leão e o cordeiro habitam a mesma casa. "E uma questão territorial, também", acrescenta Albano que encarna a rudeza, a sedução animalizada do macho, e uma nova América miscigenada que implode face à sofisticação decadente dos sulistas.
Mas, apesar deste distanciamento assumido do filme, e desta descontaminação intencional, a peça tem toda ela uma dimensão cinematográfica. Kazan transformara uma peça confinada a um só cenário num objeto cinematográfico, cheio de acção e emoção. Diogo Infante trouxe muito cinema para dentro da peça.
Mas, apesar deste distanciamento assumido do filme, e desta descontaminação intencional, a peça tem toda ela uma dimensão cinematográfica. Kazan transformara uma peça confinada a um só cenário num objeto cinematográfico, cheio de acção e emoção. Diogo Infante trouxe muito cinema para dentro da peça.
A começar pelo dispositivo giratório do palco, que transforma em travellings as mudanças de cena, criando a ilusão de movimentos de câmara, seguindo sempre as travessias de Blanche (é sempre ela que a "câmara" segue), entre aquele pedaço de rua e as duas divisões da casa.
Mas também nos jogos de luz, na profundidade de campo, criando-se pontos de tensão priveligiados, enquanto outra cena prossegue em segundo plano, ou noutra perspectiva, lá atrás. E o público fica muitas vezes entre o que vem e o que fica.
"Isso tem a ver com a minha formação, com o meu gosto pelo cinema e, de facto, esta peça pede um olhar plástico", continua Infante. Mas também são cinematográficos os sons, o guincho do gato assanhado como uma premonição, o piano melancólico, o jazz dos anos 40, a polka que só Blanche escuta antes do tiro (aliás, indicações precisas do próprio Tennessee).
E em certas alturas, escuta-se um comboio, que sempre sobressalta muito a protagonista.
Ela sente que a cada passagem, vai-se deixando ficar para trás, num apeadeiro longínquo, a acenar. Os sonhos são ainda o que a fazem manter-se acordada.
Até ao despertar definitivo, ao embarque para um manicómio e à célebre réplica final: "Sempre dependi da bondade de estranhos".
Alexandra Lencastre no seu melhor, regressada aos palcos, de onde nunca deveria ter saído.
Alexandra Lencastre no seu melhor, regressada aos palcos, de onde nunca deveria ter saído.
Albano Jerónimo, o melhor em cena.
A encenação, um primor!
No Teatro Nacional D. Maria II, visto por mim sexta passada.
Grande Noite!
1 comentário:
A critica fala muito bem !
Tenho nome de Flor
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