O quarto continuava ermo.
E a janela aberta.
A mata lá fora mais densa do que nunca.
Entrou no quarto uma mulher.
Belos cabelos negros, rosto anguloso, nariz um pouco aquilino e algumas sardas na pele queimada.
Olhos cor de mel, que na maioria dos dias eram amarelos, fendados, como os dos gatos.
O seu corpo esculpido a bisturi.
O seu nome Regina.
A sua paixão, seduzir.
Tinham-lhe falado na magia daquele quarto, onde os amores não aconteciam.
Veio vê-lo e escolheu-o.
Mandou-o limpar. A mata ficaria intacta.
Trouxe um guarda-jóias. Só.
O primeiro homem, muito jovem, que veio com ela ao quarto, chamava-se Artur. Não que isso tenha qualquer importância ou interesse. O homeme era um fantoche, todos o eram, para ela.
Ela vinha ali endeusar-se, seduzir, reduzir o homem apenas à sua condição de admirador... sem fuga.
Ela entregava-lhes o corpo, e gozava com a sua ausência, e com a entrega deles.
Nada levavam em troca.
Apenas permitia, deles, o toque no belo animal, que era. Aumentando até à exaustão o séquito de admiradores, o narcisismo, que era o traço mais nítido do seu carácter.
Também as jóias aumentavam. Eram o seu carácter exterior.
À medida que o quarto ia sendo visitado por Regina e pelo seu rol de homens febrilmente enfeitiçados, o quarto ia ficando cada vez mais como uma clareira, no meio de uma floresta selvagem.
Habitava nele o cheiro dos animais selvagens, e as suas paredes escuras pareciam ter recuado para a floresta.
Quem prescrutasse os fundos do quarto podia ter visto, neles, milhares de olhos ferinos nele emergentes. À espera...
Mas só enfeitiçados lá iam. E o enfeitiçado não vê o feitiço!
E Regina continuava e continuaria por muitos anos, enquanto houvesse bisturis, e "esculptores" e "reconstrutores", a seduir naquele quarto.
Fria, calculista, sedutora, com a sua bela presença feiticeira.
Um dia, quase quarenta anos depois, morta Regina, voltou Artur.
O quarto estava forrado a cinzas e as paredes eram a selva.
Artur saiu dali em liberdade.
Havia dado volta à sua prisão e verificou que já não existia.
Sorria...
E a janela aberta.
A mata lá fora mais densa do que nunca.
Entrou no quarto uma mulher.
Belos cabelos negros, rosto anguloso, nariz um pouco aquilino e algumas sardas na pele queimada.
Olhos cor de mel, que na maioria dos dias eram amarelos, fendados, como os dos gatos.
O seu corpo esculpido a bisturi.
O seu nome Regina.
A sua paixão, seduzir.
Tinham-lhe falado na magia daquele quarto, onde os amores não aconteciam.
Veio vê-lo e escolheu-o.
Mandou-o limpar. A mata ficaria intacta.
Trouxe um guarda-jóias. Só.
O primeiro homem, muito jovem, que veio com ela ao quarto, chamava-se Artur. Não que isso tenha qualquer importância ou interesse. O homeme era um fantoche, todos o eram, para ela.
Ela vinha ali endeusar-se, seduzir, reduzir o homem apenas à sua condição de admirador... sem fuga.
Ela entregava-lhes o corpo, e gozava com a sua ausência, e com a entrega deles.
Nada levavam em troca.
Apenas permitia, deles, o toque no belo animal, que era. Aumentando até à exaustão o séquito de admiradores, o narcisismo, que era o traço mais nítido do seu carácter.
Também as jóias aumentavam. Eram o seu carácter exterior.
À medida que o quarto ia sendo visitado por Regina e pelo seu rol de homens febrilmente enfeitiçados, o quarto ia ficando cada vez mais como uma clareira, no meio de uma floresta selvagem.
Habitava nele o cheiro dos animais selvagens, e as suas paredes escuras pareciam ter recuado para a floresta.
Quem prescrutasse os fundos do quarto podia ter visto, neles, milhares de olhos ferinos nele emergentes. À espera...
Mas só enfeitiçados lá iam. E o enfeitiçado não vê o feitiço!
E Regina continuava e continuaria por muitos anos, enquanto houvesse bisturis, e "esculptores" e "reconstrutores", a seduir naquele quarto.
Fria, calculista, sedutora, com a sua bela presença feiticeira.
Um dia, quase quarenta anos depois, morta Regina, voltou Artur.
O quarto estava forrado a cinzas e as paredes eram a selva.
Artur saiu dali em liberdade.
Havia dado volta à sua prisão e verificou que já não existia.
Sorria...
2 comentários:
tão lindo...
Tenho nome de Flor
Cheio... substracto de tal forma forte e denso que se fica a pensar e a sentir por muito tempo...
Sentir é bom...
Um abraço por esta dádiva
Carmo
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