É um velho de pé na ré de um barco. Aperta nos braços uma mala leve e um recém-nascido, ainda mais leve do que a mala. O velho chama-se Senhor Linh. É o único a saber que se chama assim pois todos os que o sabiam morreram à sua volta.De pé na popa do barco, vê afastar-se o seu país, o dos seus antepassados e dos seus mortos, enquanto a criança dorme nos seus braços. O país afasta-se, torna-se infinitamente pequeno, e o Senhor Linh vê-o desaparecer no horizonte, durante horas a fio, apesar do vento que sopra e o sacode como uma marioneta.A viagem prolonga-se por muito tempo. Dias e dias. E o velho passa todo este tempo na popa do barco, de olhos postos na esteira branca que acaba por se unir ao céu, a perscrutar o horizonte para continuar a distinguir a costa esvanecida. Quando o conduzem ao camarote, deixa-se guiar sem dizer nada, mas encontram-no um pouco mais tarde, na ponte da popa, uma mão agarrada à amurada, a outra estreitando a criança, a pequena mala de couro fervido pousada aos pés. A mala está atada por uma correia para não poder abrir-se, como se guardasse bens preciosos. Na verdade, contém roupa coçada, uma fotografia que a luz do sol apagou quase totalmente, e um saco de lona no qual o velho conserva um punhado de terra. Foi tudo o que o homem pôde levar consigo. E a criança, obviamente.
Phillipe Claudel ,1ªpágina de A Neta do Senhor Linh
Também lido no Ao longe os barcos de flores da Amélia Pais
Também lido no Ao longe os barcos de flores da Amélia Pais
14 comentários:
mmmh é lindo esse livro sim.
Se já o leu sabe... senão leia e vai ver...
um abraço e se não for muito invasivo da minha parte diga-nos algo do seu pai
já li, C.
Ainda lá está embora estabilizado...
obg pelo cuidado...
Muita coragem...
Estamos tod@s consigo
Obrigada pelas notícias.
Um abraço
C.
Sabe o que é fantástico?
É que ofereci esse livro à amiga que me fez conhecer este blog...
Para quem é tão céptica como eu, há de facto coincidências incríveis.
C.
De facto...
Estava previsto nas estrelas...
P . Estamos a falar do clássico de Hemingway?
A história tocante do velho pescador que faz uma viagem extrema pelo mar?
Se for esse ... o mais belo do livro é o que se lê entre as linhas.
Beijinhos até amanhã!
Tenho nome de Flor
Não. Estamos a falar de um livro que se chama " A neta do Senhor Linh" de Philippe Claudel. Comprei-o por acaso na Feira do Livro deste ano porque me chamou a atenção a imagem da capa e as "letras" da contracapa. Li-o há muito pouco tempo. Adorei. Quis comprar mais para oferecer. Está esgotado. Mas se encontrar vale a pena comprar. É muito muito bonito.
Abraço
Carmo
Carmo
Eu sei de que livro se fala .
Brinquei com o P. , agarrei o titulo do post e fui buscar um clássico de Hemingway!
Mas tem toda a razão o livro que pelos vistos todos lemos é fantástico.
Bem-Haja
Tenho nome de Flor
ok. A gozar comigo e eu a ver...
É bom também sabermos rir de nós próprios... eh eh
Agora deixou-me com um sorriso...
um abraço e boas leituras. Vamos partilhando.
Carmo
Carmo.
Pode tratar-me por Flor como todos aqui me tratam.
"Gozar " nunca poderia ser a minha intenção!!!
Aqui, brincamos, partilhamos, lamentamos, bebemos informação e usufruímos de momentos belos e únicos de leitura e escrita!
Sempre com muito respeito.
Estava a brincar com o P. nesta nossa cumplicidade convindo.
Beijinhos fique sempre
tenho nome de Flor
Flor
Não se preocupe, a palavra "gozar" não foi pensando que teve qualquer intenção maldosa...
É bom conseguirmos brincar no meio de uma vida às vezes tão séria e em que nos levamos tão a sério em coisas que não deviam ter importância. Importante é esta partilha, é existirem espaços como este...
O livro que leio agora e não conhecia é "As velas ardem até ao fim" de Sandor Marai (falta algures um acento) e que teimo em não terminar por estar a gostar tanto que tenho que o saborear aos poucos.
Se não leu aconselho vivamente
Um abraço e muita "brincadeira"
Carmo
Carmo.
Eu estou a ler" a História de Edgar Sawtelle".
tem profundidade psicológica e mestria poética.
Ainda não li aquele que me recomenda mas prometo que vou tentar .
Carmo mais uma vez lhe afirmo que aqui na Magnólia do Paulo, do Gui e da Passiflora, e, que nós tomamos de assalto para enriquecermos a alma e o coração existe a mais profunda amizade, cumplicidade e respeito.
beijinhos com brincadeira associada .
Tenho nome de Flor
Aquela que me pareceu a mais bela página do livro " As velas ardem até ao fim" está reproduzida neste blog com o Título o Lusco-fusco da madrugada
Passi .
Foi publicado por si em 11 de Agosto de 2008 às 18.07
Ainda não andava por aqui! já fui ver belo post como sempre.
"Era o momento em que a noite se separa do dia, o mundo de baixo do mundo de cima..."
Prometi à Carmo que vou ler.
Beijinhos Passi. :)
Fico aqui sempre à espera de algo vindo de si!!!!!
Tenho nome de Flor
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