Mas mesmo assim ela é vida.
banal.
mas vida.
É bastante provável que, depois de uma vasta carreira de sucessos, Mike Leigh esteja a entregar agora um dos seus melhores e mais interessantes filmes.
Recebido com aclamação no Festival de Cannes – era um dos principais candidatos à Palma de Ouro – Um Ano Mais é um curioso objecto cinematográfico que poderá ser um catalisador de reacções em espectros bastante distantes entre si.
Mike Leigh sempre apostou numa espécie de realismo social, muito comum no cinema britânico, que desde cedo deu frutos. Começou especialmente desde “High Hopes” (1988), que apanhou o balanço do espírito do cinema independente (foi nomeado aos Independent Spirit Awards; veio a receber ainda mais quatro por outros filmes), mas foi com “Secrets & Lies (1996) e “Vera Drake” (2004) que o cineasta adquiriu o seu estatuto actual. Estes dois últimos filmes valeram-lhe desde nomeações ao Óscar de Melhor Argumento Original e Melhor Realizador, bem como aos prémios BAFTA, César, Goya, Festival de Veneza e até acabar por vencer a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Um Ano Mais é garantidamente um dos seus mais belos filmes, pois faz do realismo o seu apanágio.
Uma espécie de ode ao quotidiano, à banalidade da vida de um casal, ao passar do tempo, à vida. Tanto que durante grande parte da história não encontremos um único conflito, a não ser uma sucessão de acontecimentos banais, com maior ou menor grau de caricato, mas sempre na base da neutralidade, acabando por tomar aquela família normal como um microcosmos de todas as famílias.
É praticamente inevitável que a dada altura o espectador se identifique com alguma das situações ocorridas durante o filme, porque flui de forma tão natural que é como se estivéssemos a assistir a algo real. O casal protagonista é também ele curioso. Na verdade, estas personagens são anfitriões literais – os convidados em sua casa, ao longo de um ano, sucedem-se – mas também metafóricos, ao servirem de alpondra para que as verdadeiras questões levantadas pelo filme surjam.
O casal é puramente retórico durante toda a trama, quando confrontados pelos problemas e excessos dos seus convidados são analíticos na resposta, uma espécie de apoio moral sem nunca opinar verdadeiramente – Gerri é psicóloga/assistente social, daí se pode depreender a atitude. Não quer com isto dizer que as interpretações e o papel de Ruth Sheen e Jim Broadbent na trama, não seja de louvar. Ambos já colaboraram com o realizador em filmes anteriores e o seu carisma e profissionalismo são suficientes para engrandecer todo o filme. Ambos são vistos como “santos”, embora não seja realmente assim – perto do fim encontramos o principal conflito da história – mas funcionam sempre como catalisadores das histórias secundárias. Secundárias, mas não menos importantes.
Encontramos ainda em “Um Ano Mais” um das mais seguras e consistentes interpretações do ano – desprezada pela Academia – que se junta ao rol de grandes actrizes e personagens do cinema de Mike Leigh.
Lesley Manville, também habitual colaboradora do realizador, consegue aqui um desempenho notável – histérico e contrastante, perfeita composição de alguém em depressão, que oscila entre estados de euforia e momentos mais depressivos, culminando num clímax (ou anti-clímax?) brilhante.
Construído de uma forma simples, dividido entre estações do ano – Primavera, Verão, Outono, Inverno – um ciclo interminável, que se inicia com um nascimento e termina com uma morte como que a metaforizar o verdadeiro sentido da vida, Um Ano Mais prima pela fina barreira entre ficção e realidade a que Mike Leigh sempre nos habituou.
Sensível, comovente, tocante, natural e simples. Como a vida. A família, a amizade, a alegria, a pena, o amor, o conforto, a solidão, o tempo. É um poema sobre a vida.
Recebido com aclamação no Festival de Cannes – era um dos principais candidatos à Palma de Ouro – Um Ano Mais é um curioso objecto cinematográfico que poderá ser um catalisador de reacções em espectros bastante distantes entre si.
Mike Leigh sempre apostou numa espécie de realismo social, muito comum no cinema britânico, que desde cedo deu frutos. Começou especialmente desde “High Hopes” (1988), que apanhou o balanço do espírito do cinema independente (foi nomeado aos Independent Spirit Awards; veio a receber ainda mais quatro por outros filmes), mas foi com “Secrets & Lies (1996) e “Vera Drake” (2004) que o cineasta adquiriu o seu estatuto actual. Estes dois últimos filmes valeram-lhe desde nomeações ao Óscar de Melhor Argumento Original e Melhor Realizador, bem como aos prémios BAFTA, César, Goya, Festival de Veneza e até acabar por vencer a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Um Ano Mais é garantidamente um dos seus mais belos filmes, pois faz do realismo o seu apanágio.
Uma espécie de ode ao quotidiano, à banalidade da vida de um casal, ao passar do tempo, à vida. Tanto que durante grande parte da história não encontremos um único conflito, a não ser uma sucessão de acontecimentos banais, com maior ou menor grau de caricato, mas sempre na base da neutralidade, acabando por tomar aquela família normal como um microcosmos de todas as famílias.
É praticamente inevitável que a dada altura o espectador se identifique com alguma das situações ocorridas durante o filme, porque flui de forma tão natural que é como se estivéssemos a assistir a algo real. O casal protagonista é também ele curioso. Na verdade, estas personagens são anfitriões literais – os convidados em sua casa, ao longo de um ano, sucedem-se – mas também metafóricos, ao servirem de alpondra para que as verdadeiras questões levantadas pelo filme surjam.
O casal é puramente retórico durante toda a trama, quando confrontados pelos problemas e excessos dos seus convidados são analíticos na resposta, uma espécie de apoio moral sem nunca opinar verdadeiramente – Gerri é psicóloga/assistente social, daí se pode depreender a atitude. Não quer com isto dizer que as interpretações e o papel de Ruth Sheen e Jim Broadbent na trama, não seja de louvar. Ambos já colaboraram com o realizador em filmes anteriores e o seu carisma e profissionalismo são suficientes para engrandecer todo o filme. Ambos são vistos como “santos”, embora não seja realmente assim – perto do fim encontramos o principal conflito da história – mas funcionam sempre como catalisadores das histórias secundárias. Secundárias, mas não menos importantes.
Encontramos ainda em “Um Ano Mais” um das mais seguras e consistentes interpretações do ano – desprezada pela Academia – que se junta ao rol de grandes actrizes e personagens do cinema de Mike Leigh.
Lesley Manville, também habitual colaboradora do realizador, consegue aqui um desempenho notável – histérico e contrastante, perfeita composição de alguém em depressão, que oscila entre estados de euforia e momentos mais depressivos, culminando num clímax (ou anti-clímax?) brilhante.
Construído de uma forma simples, dividido entre estações do ano – Primavera, Verão, Outono, Inverno – um ciclo interminável, que se inicia com um nascimento e termina com uma morte como que a metaforizar o verdadeiro sentido da vida, Um Ano Mais prima pela fina barreira entre ficção e realidade a que Mike Leigh sempre nos habituou.
Sensível, comovente, tocante, natural e simples. Como a vida. A família, a amizade, a alegria, a pena, o amor, o conforto, a solidão, o tempo. É um poema sobre a vida.
1 comentário:
Obrigada P.
Este vou mesmo ver.
Beijinhos até amanhã
Tenho nome de Flor
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