É Sábado.
Hora das fitas. Das outras.
Fecham-se as luzes da sala
E arranca, entre marcas de perfumes e beatas adormecidas na boca do público, o filme...
(...)
As cores perpassam o mágico écran
E as solidões tornam-se acompanhadas
Naquela jaula de feras soturnas, brancas ou negras, coloridas ou desbotadas
Que pedem licença à norma para chorar
Há quem ponha o sono em dia ou em noite
Há quem boceje à espreita do segredo incontável
Há quem desespere de tanto esperar pelo proibido
Há quem abandone o palco porque o tempo dita regras
Lá em cima, indiferentes aos leopardos que vêem sem olhar,
Movimentam-se as divas e os galãs
Os Arlequins e as Salomés
As Garbos e os Valentinos
As Garças e os Cisnes
Os Cucos e os cavalos que também se abatem
Os cowboys alternativos e as magnólias em forma de sapos caídos do céu zangado
Os pacientes ingleses, os fiéis jardineiros, os príncipes das marés
E mais os Capelos Gaivotas, os inadaptados e os padrinhos
Os carros assassinos, as Cleópatras, as Gildas e as Sabrinas
Tudo rodopiando ao som da balada mais dolente do mundo,
Aquela que sai da voz de Norma Jean
Tudo flamejando pelo rubro da harmonia de Francis Lai,
Gershwin ou Armstrong
Tudo sapateando ao cheiro flamengo dos saleros, das valsas disfarçadas em tangos
E as plumas? Essas enfeitam o pó de arroz da Crawford, os olhos sôfregos da Binoche.
Os assobios da Bacall, os olhos da Davis, a boquilha da Audrey, o nariz da Streisand
Iluminam o plateau de serpentes enfeitiçadas
Os batuques demorados do Nilo, as escadarias palacianas de Sabá
Os crepúsculos dos deuses que teimam em não dormir
As lantejoulas sossegam os rouxinóis
E Los Angeles respira de alívio
Porque as limusinas continuam paradas em Beverly Hills
(...)
Repentinamente, as luzes acendem-se
O filme "pifou e a turma toda logo vaiou"
Mas eles e elas amam de papel passado,
Disfarçam os risos em lágrimas
Hão-de voltar quando forem de novo convocados
E só por isso são perdoados
(...)
E afinal continua a ser Sábado
Na fita da vida da gente que segue sempre dentro de momentos...
2 comentários:
Não é mentira : o meu amor não gosta de Dinheiro, de futebol, de carros bons...
Gosta mais do ser do que dos embrulhos, gostamos de mar , de jantar, de sair, de rir e de ser felizes juntos
Sabes quem sou
Eu sei, meu amor...
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