Primeiro, emigra-se do ventre para o berço, do berço para o chão, do chão para o pátio, do pátio para a rua, da rua para todas as ruas. Começa o êxodo do Eu para outros Eus, a infindável procissão de nós mesmos em que cada Eu carrega um núcleo do Eu primordial, um caroço irredutível e resistente à corrosão. Quando atingimos o ponto mais centrífugo de quem somos, o caroço assoma à varanda da consciência e declara - podes fugir daquele lugar mas ele nunca há-de fugir de ti. A frase comove pelo lugar-comum. Tanta légua percorrida para chegar a um lugar-comum? Mas a verdade é que só aí deixamos cair a pele do provinciano e alcançamos a tranquilidade que nos permite estar em qualquer centro como se estivéssemos no Nosso Café.
Cimo de Vila - Carlos Tê - Edições Afrontamento
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