domingo, 10 de abril de 2011

Pegadas na areia



Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro a olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.


[Camilo Pessanha]

4 comentários:

R. disse...

É das coisas mais bonitas que li ultimamente, P.
Preciso mesmo de o levar comigo...
Podia ser o prefácio da história que me deixaria mais feliz entre todas as histórias...
Um dia, quem sabe, conto-te porquê!
Um beijinho, meu amigo!

Anónimo disse...

Merci.F

Anónimo disse...

Rendo-me ao texto
E tal como diz a R. é dos escritos mais belos que até hoje li

Tenho nome de Flor

César Paulo Salema disse...

Merci Chloe...