segunda-feira, 6 de junho de 2011

MEIAS VERDADES

"A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só conseguia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil. E os meios perfis não coincidiam. Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia os seus fogos. Era dividida em duas metades diferentes uma da outra.Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. Nenhuma das duas era perfeitamente bela. E era preciso optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia."

Carlos Drummond de Andrade. A Verdade Dividida.




1 comentário:

Anónimo disse...

COMO EU GOSTAVA DE CONSEGUIR INTERIORIZAR ESTE BELO POEMA.
Um dia talvez consiga

"Por muito tempo achei que a ausência é falta
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
a ausência é um estar em mim.
e sinto-a branca, tão pegada, aconchegada
nos meus braços.
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém rouba mais de mim"

Carlos Drummond de Andrade