sábado, 18 de junho de 2011

Mestrados

Ana foi renovar a sua carta de condução. Pediram-lhe para informar qual era a sua profissão.


Ela hesitou, sem saber bem como se classificar

-"O que eu pergunto é se tem um trabalho", insistiu o funcionário.

-" Claro que tenho um trabalho", exclamou Ana. -"Sou mãe".

-"Nós não consideramos 'mãe' um trabalho. Vou colocar Dona de casa", disse o funcionário friamente.

Não voltei a lembrar-me desta história até ao dia em que me encontrei em situação idêntica...

A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante.

-"Qual é a sua ocupação?" Perguntou.

Não sei o que me fez dizer isto; as palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora:

-"Sou Doutora em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas. "

A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar para o ar e olhou-me como quem diz que não ouviu bem...

Eu repeti pausadamente,enfatizando as palavras mais significativas.

Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial.

Posso perguntar", disse-me ela com novo interesse, "o que faz exactamente?"

Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder:

-"Desenvolvo um programa a longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa).
Sou responsável por uma equipa (a minha família) e já recebi quatro projectos (todas meninas). Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda???), o grau de exigência é em nível de 14 horas por dia (para não dizer 24 horas). 
Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária que acabou de preencher o formulário, se levantou e pessoalmente foi abrir-me a porta.

Quando cheguei a casa, com o título da minha carreira erguido, fui recebida pela minha equipa: - uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 3.

Do andar de cima, pude ouvir o meu mais recente projecto (um bebé de seis meses), a testar uma nova tonalidade de voz.

Senti-me triunfante.

Maternidade... que carreira gloriosa!
Assim, as avós deviam ser chamadas "Doutora-Sénior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas ".

As bisavós: "Doutora- Executiva-Sénior".

E as tias: "Doutora - Assistente".

3 comentários:

Anónimo disse...

Ser mãe não é apenas carregar no ventre, por alguns meses...
Ser mãe não é apenas cuidar, vestir, alimentar, aconselhar ou mimar...
Ser mãe é muito, muito ...
Ser mãe é amar, amar e amar...
Ser mãe é sentir-se abençoada...
Ser mãe é imaginar na solidão o ninho que ficou vazio...
Ser mãe é a doçura, a inquietação , anseios e muitas esperanças...
Ser mãe é assistir aos avanços, sorrir nas vitórias e amparar com o mesmo sorriso nas derrotas...
Ser mãe é ouvir falar das namoradas ...
Ser MÃE...
Ser mãe é para SEMPRE!
Ser mãe é ser feliz somente por ser mãe...

Não quero fazer o Mestrado!
Não quero fazer o Doutoramento!

Quero simplesmente dizer até aos fim dos meus dias ESTE É O MEU FILHO! AQUELE QUE MAIS AMO!

Tenho nome de Flor

César Paulo Salema disse...

linnnnnnnnnndo

Anónimo disse...

de fato, está muito sentido...