quinta-feira, 14 de julho de 2011

Zero a Matemática

Um Quociente apaixonou-se


Um dia

Doidamente

Por uma Incógnita.



Olhou-a com seu olhar inumerável

E viu-a, do Ápice à Base...

Uma Figura Ímpar;

Olhos rombóides, boca trapezóide,

Corpo ortogonal, seios esferóides.



Fez da sua

Uma vida

Paralela à dela.

Até que se encontraram

No Infinito.



"Quem és tu?" indagou ele

Com ânsia radical.

"Sou a soma do quadrado dos catetos.

Mas pode chamar-me Hipotenusa."



E de falarem descobriram que eram

O que, em aritmética, corresponde

A alma irmãs

Primos-entre-si.



E assim se amaram

Ao quadrado da velocidade da luz.

Numa sexta potenciação

Traçando

Ao sabor do momento

E da paixão

Rectas, curvas, círculos e linhas sinusoidais.



Escandalizaram os ortodoxos

das fórmulas euclidianas

E os exegetas do Universo Finito.



Romperam convenções newtonianas

e pitagóricas.

E, enfim, resolveram casar-se.

Constituir um lar.

Mais que um lar.

Uma Perpendicular.



Convidaram para padrinhos

O Poliedro e a Bissectriz.

E fizeram planos, equações e

diagramas para o futuro

Sonhando com uma felicidade

Integral

E diferencial.



E casaram-se e tiveram

uma secante e três cones

Muito engraçadinhos.

E foram felizes

Até àquele dia

Em que tudo, afinal,

se torna monotonia.



Foi então que surgiu

O Máximo Divisor Comum...

Frequentador de Círculos Concêntricos.

Viciosos.



Ofereceu-lhe, a ela,

Uma Grandeza Absoluta,

E reduziu-a a um Denominador Comum.



Ele, Quociente, percebeu

Que com ela não formava mais Um Todo.

Uma Unidade.

Era o Triângulo,

chamado amoroso.

E desse problema ela era a fracção

Mais ordinária.



Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade.

E tudo que era espúrio passou a ser

Moralidade

Como aliás, em qualquer

Sociedade.

MILLOR FERNANDES

4 comentários:

Anónimo disse...

Soberbo!
Como a matemática pode ser poética...
Carmo

Guilherme Salem disse...

Adorei...Bjs. Gui

Anónimo disse...

Amei .
Beijinhos

Tenho nome de Flor

Anónimo disse...

Millôr Fernandes, belo.