segunda-feira, 31 de outubro de 2011

hoje...




"Abelhas novembras murmuram meu olho."




Manoel de barros.

No dia em que a Passi faz anos...

As marés estão hoje mais despertas.
Ela é uma queda de água, de coração assumido,
um tango a horas mortas,
uma gota vermelha num mar de escorpiões.
Sinto-a viva, inquieta, vibrante,
rodeada de pedras rolantes mas firmes, de maracujás maduros e sumarentos...
Este é o seu natal.

Para ti, Passiflora, a benevolência do tempo e a argúcia das águias...

domingo, 30 de outubro de 2011

claridade




Clareou.
Vieram pombas e sol,
e, de mistura com Sonho,
pousou tudo num telhado...
(Eu, destas grades, a ver,
desconfiado.)
Depois,
uma rapariga loira,
(era loira)
num mirante
estendeu roupa num cordel:
Roupa branca, remendada,
que se via
que era de gente lavada,
e só por isso aquecia...
E não foi preciso mais:
Logo a alma
clareou por sua vez.
Logo o coração parado
bateu a grande pancada
da vida com sol e pombas
e roupa branca, lavada.




Miguel Torga

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

para um amigo tenho sempre um relógio



Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.

António Ramos Rosa, Viagem Através duma Nebulosa (1960

prémio: também as "sebolas" me fazem chorar

China está preparada para ajudar o Euro!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sobre uma oração

Protegei, Senhor, a minha Decisão
porque ela é a minha forma de rezar
e partilhar convosco o meu caminho.
Vencida a curva da dúvida
dai-me toda a coragem
para o fazer Convosco.

(MAP)

Sobre um poema

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.


HERBERTO HELDER

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Beleza em letras


Lembremos coisas belas no meio de tanta "merda"...


Queixa das almas jovens censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte

Natália Correia, in "O Nosso Amargo Cancioneiro"

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Beringela em grande entrada

www.beringelaatelier.blogspot.com

Onde as cores tomam freios de luz, formas de papel mágico, pedras de ouro fino...

sábado, 15 de outubro de 2011

AS PALAVRAS QUE NUNCA TE DIREI


mando as palavras ao mar

como se elas fossem capazes de nadar

espero na praia que me devolvas a alma

essa que foi capaz de não naufragar



Por isso, sussurro ao vento

notícias da tua ausência

que me responde: «já não és deste mar!»

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Vox Animalis




















































Dou voz aos meus queridos amigos irracionais (mas que não têm menos direitos que eu) em favor do seu deputado na pitoresca Região Autónoma da Madeira.

E, esquecendo que, se não fosse a carne e as proteínas animais, continuaríamos todos uns australopitecus quaisquer (foi aquilo que desenvolveu o cérebro e daí...) estou em sintonia com os nossos irmãos animais...ao fim e ao cabo já há tanta gente a ocupar-se de crianças (ou menores) desvalidas, velhos (idosos se preferirem) abandonados e doentes (pessoas de saúde periclitante) de qualquer idade e tamanho, que o melhor é dedicarmo-nos a causas altas e de sublime importância....comam raízes e tubérculos...e fiquem com ar de fantasmas....branquinhos, baços, super-magros (tipo top-model) e disputem um talo de alface com os amigos.....sim os legumes fazem bem, todos sabemos e os comemos ( e são seres vivos)...mas...não só os legumes...Deus (para mim a Natureza) fez-nos omnívaros por alguma razão. Acho que além de nós, só os ursos...o que é uma bela companhia.

Mas...viva a luta pelos animais e pela natureza bacocamente recebida e entendida e viva os talos de alface e as folhas de agrião.

Já agora...não tomem banho....lambam-se e esfreguem-se, mantenhamos a Natureza. Que se lixe a Amazónia, as florestas tropicais, os desertos em expansão...vamos é torcer pelos touros, pelas galinhas velhas e pelos coelhos de orelha murcha (falhou essa foto)

Fiquem bem. E tenham juízo.


Eu...ADORO isto.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

sinto-me cada vez mais assim...

Troika dixit... e nós acatamos!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Há lá imagem para isto...o que custou arranjar esta coisa



Bem...o satelite fez o favor de cair em áreas sem habitantes...pena...e a rezar para que caísse na Venda do Pinheiro ou, direitinho, na fronha da TG...mas não...o filho da mãe permitiu que a indecorosa performance continue..



Vistos os escolhidos.... (a dedo? desconfio...não foi só dedo)...e a excitação da TG (que nem que tenha que pegar numa arma e obriga-los a despir e a fazer sexo), aquilo é mesmo de magnatas da comunicação.

Um perfeito conjunto de filhos da puta, inúteis, ignorantes, egocêntricos, falhados em tudo, e famintos de uma estupida hora de tv....como se aquilo justificasse uma vida.....pobres, pobres, pobres, pobres...muito pobres...e perfeitamente dispensáveis (o meu lado mau)...who cares about that and about them ?

Esta será a última vez que me refiro áquele programito da TVI.....

E o raio do satélite que caiu no Canada e no Pacifico.


Revelem seus segredos...
Sejam Famosos (uma nova profissão em Portugal...famoso....seja lá que merda isso é)....ouve-se falar nas Tv´s nos "famosos"...e isso deixa uma pergunta no ar...Who?...What?...que pirosos sem remedio...apenas cheiram dinheiro e nada mais.



DINHEIRO...tudo o que justifica esta COUSA. e outras.

domingo, 9 de outubro de 2011

Bichos



O meu gato, o meu cão, os meus piriquitos e as minhas galinhas (que, asseguro, acabarão todas no forno ou em cabidela) agradecem aos portugueses da Madeira a eleição de um deputado do PAN.



Eu fico abismado....o Grande Miguel torga até deve dar voltas na tumba ao ouvir falar aquela gente. Daquele discurso aveludado, viscoso, paternalista, melado, sentimentalista, "muito terra", e tal, alguma coisa daquilo soa a verdade? é que se aquilo é mesmo a sério estamos todos a precisar de internamento.



Seja como for...um bem haja do Tareco, do Tejo, da Lassie, do Piu-Piu e da Pia-Pia e das galinhas que, como se sabe, não têm nome.



ADOREI

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Cheira a Nobel - vem do sol da meia noite

HISTÓRIAS DE MARINHEIROS (1954)



Há dias de inverno sem neve em que o mar é parente

de zonas montanhosas, encolhido sob plumagem cinza,

azul só por um minuto, longas horas com ondas quais pálidos

linces, buscando em vão sustento nas pedras de à beira-mar.



Em dias como estes saem do mar restos de naufrágios em busca

de seus proprietários, sentados no bulício da cidade, e afogadas

tripulações vêm a terra, mais ténues que fumo de cachimbo.



(No Norte andam os verdadeiros linces, com garras afiadas

e olhos sonhadores. No Norte, onde o dia

vive numa mina, de dia e de noite.



Ali, onde o único sobrevivente pode estar

junto ao forno da Aurora Boreal escutando

a música dos mortos de frio).



THOMAS TRANSTROMER - NOBEL DA LITERATURA 2011

fascismo(politicamente correcto) só não vê quem anda nele



Fico espantado que nunca se diga nada sobre estas séries americanas que invadem não só a cabo, mas também, a tv regular. Tudo quanto sai dali soa a mofo e a fascismo na versão democrática americana...maniqueista. Nós somos os bons...sempre (e a qualquer preço) os outros...são maus. É inefável a mensagem que passa por estas séries...legitimam penas de morte, suspeitos tratados como culpados, justiça vista como algo que é um entrave à verdadeira Justiça da Gente, puros somos nós tudo o resto é lixo e "scum". Pergunto-me, mesmo...será assim lá?...ou seja...tipo Body Proof...são os médicos legistas que conduzem os processos e descobrem tudo? os policias andam a trote deles...ou delas..? na maior parte destas séries temos mulheres valorosas...que convivem com polícias (homens) tontos e limitados, muito machos mas muito tontos, e elas conduzem a investigação por eles, mesmo sendo médicas, assistentes sociais ou o caraças....
Como todos sabem, os Exmos Peritos da Medicina Legal (sobretudo se forem mulheres a contactar com um polícia homem muito bruto) descobrem os crimes todos e alcançam o zen....
Moralismo bacoco, maniqueismo sem contradição
...um horror...
Isto é tudo muito rídículo...e ninguém o diz. Ninguém acha mal. Até começarem a pensar porque não é assim por cá. Claro, o (a) medico (a) legista vai com o policia, vais mais que ele, e vai descobrir tudo...e tudo é legal e aceite. Estas MERDAS que não passam de entretenimento (muito pouco inocente, diga-se) deviam vir com um aviso...O consumo faz mal à saúde mental e democrática e, sobretudo, faz mal à noção da realidade.
Estas séries, de facto, são um pasto de merda e de mal entendidos.
Mas são, isso não duvido, politicamente correctas.
Bla, Bla, Bla.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Os guerreiros da sombra

Fazem-nos falta estes guerreiros...

terça-feira, 4 de outubro de 2011

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

sem o meu acordo

Quando eu escrevo a palavra acção, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o C na pretensão de me ensinar a nova grafia.
De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na Língua Portuguesa. Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim.

São muitos anos de convívio.
Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes CCC's e PPP's me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância.
Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: - não te esqueças de mim!

Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei
que não falas, mas ainda bem que estás aí.
E agora as palavras já nem parecem as mesmas.
O que é ser proativo?
Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.

Depois há os intrusos, sobretudo o R, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato.
Caíram hífenes e entraram RRR's que andavam errantes.
É uma união de facto, e  para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem.
Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os EEE's passaram a ser gémeos, nenhum usa ( ^^^) chapéu.

 
E os meses perderam importância e dignidade; não havia motivo para terem privilégios. Assim, temos  janeiro, fevereiro, março, são tão importantes como peixe, flor, avião. Não sei se estou a ser suscetível, mas sem P, algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.
As palavras transformam-nos.
Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos.
Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do C não me faça perder a direção, nem me fracione, e nem quero tropeçar em algum objeto.
Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um C a atrapalhar.
Só não percebo porque é que temos que ser NÓS a alterar a escrita, se a LÍNGUA É NOSSA ...? !

 


RAP

domingo, 2 de outubro de 2011

DENÚNCIA