domingo, 30 de outubro de 2011

claridade




Clareou.
Vieram pombas e sol,
e, de mistura com Sonho,
pousou tudo num telhado...
(Eu, destas grades, a ver,
desconfiado.)
Depois,
uma rapariga loira,
(era loira)
num mirante
estendeu roupa num cordel:
Roupa branca, remendada,
que se via
que era de gente lavada,
e só por isso aquecia...
E não foi preciso mais:
Logo a alma
clareou por sua vez.
Logo o coração parado
bateu a grande pancada
da vida com sol e pombas
e roupa branca, lavada.




Miguel Torga

1 comentário:

Anónimo disse...

" É impossível que o tempo actual não seja o amanhecer doutra era, onde os homens signifiquem apenas um instinto às ordens de primeira solicitação
Tudo quanto era coerência, dignidade , hombridade , respeito humano . foi-se !

Miguel Torga " In Diário) 1941)

Tenho nome de Flor